Coluna da Maga
Magali Moraes: sem pressa
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho


Já vimos mil vezes essa cena, seja como pedestre ou como motorista ou carona. Sempre que carros e motos param pra gente atravessar na faixa de segurança, nosso instinto manda apressar o passo. É como se estivessem nos fazendo um grande favor ao ceder a passagem (quando é apenas a obrigação). Por mais que a gente venha caminhando tranquilo na rua, as nossas pernas automaticamente entram em modo acelerado pra cruzar o quanto antes a distância até o outro lado.
Agimos assim por agradecimento? Precaução? Não fomos atropelados, ufa. Não somos invisíveis! O carro ou moto nos viu e fez o que deveria fazer (que é dar preferência ao pedestre). Então agradecemos gentilmente com a tal corridinha pra que o motorista não perca seu precioso tempo. O mesmo acontece nas entradas de garagem. É como se a máquina estivesse sempre em vantagem sobre nós, humanos. Quando foi que a ordem natural das coisas se inverteu? Pedestres deveriam ser reis e rainhas.
Turismo
Em algumas cidades, o comportamento muda. Em Gramado e Canela, por exemplo, os caminhantes possuem prioridade nas ruas. É a força do turismo, a boa educação local ou os dois? No último final de semana, estávamos descansando na serra. Ao atravessar uma rua, agimos como porto-alegrenses: aceleramos o passo, claro. Sabe o que ouvimos do morador que vinha dirigindo e parou pra nós? “Sem pressa, sem pressa… vocês estão em Canela!” Ele sorriu, o sol abriu.
Foi uma experiência tão gostosa quanto o café da manhã da pousada. É isso que a gente leva pra casa, o tratamento diferenciado. Vou lembrar dessa cena quando estiver dirigindo e achando que meus compromissos são mais importantes do que ser educada e gentil no trânsito. Prometo reforçar os cuidados. É justamente essa inversão de papéis que nos faz avaliar melhor as próprias atitudes. Sem pressa pra dirigir, sem pressa pra atravessar a rua, sem pressa pra tantas outras coisas na vida.