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Papo Reto

Manoel Soares: "Difícil não trair vocês"

Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados 

10/05/2025 - 05h00min

Atualizada em: 10/05/2025 - 05h00min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Fábio Rocha/Divulgação Globo
Colunista reflete sobre ganhar dinheiro fácil.

Amigos, esses dias enfrentei um dos maiores desafios de minha vida. Por conta de você que me acompanha nas redes sociais, eu fui chamado por uma plataforma de jogos online para fazer vídeos jogando e mostrar como é fácil ganhar dinheiro com ela. 

Como a maioria aqui sabe, eu tenho dois pequenos autistas que dependem diretamente do que eu ganho, e, como atualmente não estou em nenhuma emissora, essa grana chegaria em boa hora. Além dos meus pequenos com autismo, tenho os demais filhos, que não possuem laudo de neurodivergência, mas também é de minha responsabilidade o bem-estar deles. A proposta da publicidade era bem explícita ao dizer que eu teria que me mostrar um cara que aposta em jogos online e que incentiva que outras pessoas joguem. 

Confesso que fiquei com medo de levar a proposta até minha esposa, pois ela sabe como é desafiador segurar as ondas sem ter uma grana certa todo mês. Por outro lado, sei como é perigoso o vício em jogos. Me lembro dos idosos que já gravei em reportagens que desapareciam por dias, no fim eram encontrados por familiares derretendo seu dinheiro em bingos e cassinos clandestinos no centro de Porto Alegre. Hoje, os maiores alvos das apostas online são os jovens, adolescentes e crianças que roubam os cartões de pais e avós gastando todo o saldo e fazendo empréstimos para jogar. 

Dinheiro fácil

A promessa de dinheiro fácil arrasta mentes confusas para um ambiente que devora as esperanças como traça em roupas velhas. Em pouco tempo, o comportamento é similar ao de dependência química; eles não comem, não dormem e fazem qualquer coisa pela próxima jogada. 

Foi pensando nisso que tomei a decisão de recusar a proposta. Admito que foi difícil abrir mão do valor equivalente a três anos de trabalho em um único contrato de seis meses, mas acredito que as vidas que ajudamos a destruir em nome de nossas razões, pois mais justas e nobres que sejam, um dia serão cobradas. O universo não brinca na hora de ajustar as contas, sendo assim, vou confiar em Deus e esperar novas oportunidades

Não estou escrevendo isso para dizer que sou uma pessoa boa e tal, pelo contrário; assim como talvez você que lê esse texto, eu queria a grana e cheguei a pensar que se alguém se prejudicasse, seria problema da empresa, e não meu. Porém, lá no fundo eu sei que estaria usando a confiança que alguns de vocês têm em mim para promover algo que poderia destruir suas vidas, e isso tem nome: traição.


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