Papo Reto
Manoel Soares: "Versões do Manoel"
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados


Tão ruim como ser uma pessoa constantemente antipática, é ser simpático o tempo todo. Hoje, ser uma pessoa alto-astral é quase uma imposição de comportamento. Pessoas que estão em um dia ruim são banidas de convívios sociais e profissionais.
Mas, se não podemos mostrar como estamos de fato, como agir? O ideal é entender que ninguém tem nada a ver com nossa tristeza nem com nossa felicidade. Aprender que não temos a obrigação nem o direito de dizer como estamos em nosso íntimo é um ponto de partida. Às vezes, caímos na armadilha do excesso de verdade – sim, até a verdade que entregamos às pessoas precisa ser bem dosada, senão colocamos uma quantidade de informações pessoais desnecessárias na roda. A questão é que nem sempre é sobre o que falamos, mas sobre como nos comportamos, afinal uma ação, às vezes, diz mais que mil palavras.
Com a visibilidade que a televisão me trouxe, tive que aprender que versão do Manoel iria entregar às pessoas. Por exemplo, uma vez tive que apresentar um programa na Globo no dia em que meus filhos pequenos tinham saído pelo portão e ficaram minutos perdidos na rua. Por mais que essa informação me deixasse à flor da pele, eu não poderia falar sobre isso no ar, ou abandonar o programa no meio. Sem dizer nada a ninguém, no intervalo, fui ao banheiro, chorei, orei para que Deus me ajudasse e voltei, como se nada tivesse acontecido. Minutos depois, os meninos foram encontrados e tudo voltou ao normal. Se eu tivesse cedido ao impulso de me expor, teria que ficar administrando o problema que o problema me trouxe.
Babaca ou fantástico
Hoje, se uma pessoa diz que me acha um babaca, eu digo: obrigado. Se uma pessoa diz que me acha um cara fantástico, eu digo: obrigado. Eu entendi com o tempo que não sou babaca nem fantástico, sou somente uma pessoa, mas quem me vê, às vezes, enxerga em mim o que está dentro dela mesma, que pode ser algo babaca ou fantástico. Sendo assim, entrego sempre o mesmo Manoel, esteja eu radiante ou super triste, pois entendi com os anos que ninguém tem nada a ver com minha vida ou sobre como me sinto de verdade.