A dor emocional quase se sobrepõe à dor física que Geneci Lourdes Ferreira, 57 anos, sente enquanto aguarda para fazer uma artroplastia total de quadril. Ela está na fila de espera para a cirurgia no Hospital Universitário (HU) de Canoas, cidade onde vive, há seis anos. 

— Eu poderia estar trabalhando, mas vivo com dores, dependo da minha filha para tudo — desabafa. 

Em outubro do ano passado, Geneci foi chamada para fazer os exames pré-operatórios e, enfim, realizar a cirurgia. No entanto, entre os testes solicitados, um não era oferecido pelo hospital: um ecocardiograma de estresse farmacológico. 

A paciente, então, decidiu realizá-lo em uma clínica particular, para não adiar ainda mais a operação. Entretanto, só com a pensão por afastamento do trabalho que Geneci recebe do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) não era possível bancar o procedimento, que custava R$ 800. Por isso, ela recorreu a uma vaquinha online para arrecadar o valor. 

Mas, até agora, Geneci não conseguiu realizar a operação. 

— É muito triste. Eu corri atrás, consegui o mais difícil, que era fazer o exame particular, tive todo esse empenho e ainda estou esperando, com as dores cada dia piores. Tenho até vergonha de dizer para as pessoas que doaram para a vaquinha que eu ainda não fiz a cirurgia — lamenta. 

Geneci tem desgastes dos dois lados do quadril, com maior comprometimento no lado esquerdo, cuja perna é mais curta. Segundo o que a paciente recorda, foi em maio de 2019 que recebeu o encaminhamento de urgência para receber a prótese, depois de procurar atendimento médico devido às fortes dores que sentia. 

Mais tarde, o comprometimento da mobilidade obrigou ela, que trabalhava como operadora de aparelhos no Instituto de Cardiologia, a parar: 

— Eu trabalhei ainda um ano com esse problema, até que o setor de Medicina do Trabalho me afastou, eles viram que eu não conseguia caminhar. 

Desde então, ela depende de medicamentos para aliviar as dores. Para caminhar, só com andador. O simples ato de sentar-se ou vestir-se é um desafio. A invalidez precoce entristece Geneci que, se não fosse pela situação do quadril, teria plenas condições de ser independente. 

— A minha casa é de dois pisos, mas desde o dia que a casa ficou pronta não pude ver o segundo andar, porque não consegui subir — relata. 

Na última sexta-feira, Geneci foi chamada para uma nova consulta no Hospital Universitário ainda neste mês. Ela espera que, enfim, seja marcada a cirurgia. Procurado pelo reportagem, o Hospital Universitário de Canoas não se manifestou sobre o caso.

Fila tem 11 mil pedidos no Estado

Na sexta-feira, o Diário Gaúcho mostrou que milhares de pessoas estão na fila do Sistema Único de Saúde (SUS) no Rio Grande do Sul à espera de uma cirurgia de prótese. Na fila da Secretaria Estadual da Saúde (SES), a maior demanda é por próteses de quadril, representando 52,3% dos casos. Quase 5 mil pacientes esperam por uma prótese de joelho, cerca de 45% do total. A fila se concentra principalmente na Região Metropolitana, com 1.225 pessoas. Só em Porto Alegre, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde, são 5.151 pacientes. Já no Estado, números da SES obtidos via Lei de Acesso à Informação (LAI) indicam uma lista de espera com pelo menos 11.054 nomes. 

A Secretaria Estadual da Saúde informa que tem dois programas permanentes no Estado disponíveis para reduzir o tempo de espera e ampliar o acesso a procedimentos, o Programa de Complementação de Alta Complexidade em Ortopedia, com investimento de R$ 14 milhões, e o Mais Acesso a Especialistas, com um investimento aproximado de R$ 8 milhões. Segundo a SES, “como resultado desses esforços, houve um crescimento superior a 30% na realização de cirurgias de prótese de quadril e de joelho em 2024, em comparação ao ano anterior”.

Produção: Caroline Fraga