Retratos da Vida
Projeto entrega bibliotecas novas para escolas atingidas pela enchente
Na última segunda-feira, espaço organizado pelo Bi-Bi Móvel - Jornada de Alfabetização foi inaugurado no Humaitá, na Capital

Os olhos atentos, os sorrisos abertos e os ouvidos ativos. Essa era a postura das crianças que observavam a peça de teatro do projeto Bi-Bi Móvel – Jornada de Alfabetização, na Escola Municipal de Ensino Fundamental Vereador Antônio Giudice, no bairro Humaitá, em Porto Alegre, na última segunda-feira. Além de incentivar a leitura e a arte nas escolas, a apresentação tinha outra finalidade: inaugurar uma biblioteca novinha em folha na instituição que foi duramente atingida pela enchente do ano passado.
A iniciativa da Bi-Bi Móvel foi criada durante a pandemia pela empresa Amora Produções Culturais, que realiza projetos por meio de editais de incentivo à cultura. Na época, a ação levava, em sua kombi, uma biblioteca itinerante para a casa de crianças que não tinham acesso à literatura no isolamento.
Reestruturação
Com a enchente de maio de 2024, o projeto se reestruturou e obteve recursos para a construção de bibliotecas fixas em seis escolas que sofreram com a inundação no Estado. Após uma longa análise de necessidades, seis escolas, nas cidades de Porto Alegre, Canoas e Montenegro, foram contempladas. No último dia 28, a Emef Vereador Antônio Giudice teve a sua biblioteca inaugurada.
Além da entrega dos espaços, o projeto fará oficinas formativas de literatura e contação de histórias com professores. Em outras escolas selecionadas, profissionais irão atuar por seis meses, por meio do uso de ferramentas artísticas, para contribuir com a trajetória de alfabetização de crianças com dificuldades.
As apresentações

Para marcar a entrega do novo espaço, apresentações teatrais foram realizadas ao longo do dia na escola. Com o texto adaptado após a tragédia do ano passado, a peça Os Sonhos de Ágatha, uma adaptação do livro homônimo da autora Luciana Leite, entreteu – e ensinou – os alunos. Para a professora de artes Leticia Hernandes da Silva, que acompanhava o espetáculo com os estudantes, o assunto da peça conversou com o que ela trabalha em sala de aula:
— Achei a iniciativa excelente. Traz a questão da enchente, do trauma, mas também explica a origem das mudanças climáticas. Além disso, aborda um incentivo à mulher periférica.
Sobre a biblioteca, Leticia também tece elogios.
— É o estímulo que eles precisavam — finaliza.
O espaço
Ao entrar na nova biblioteca da Antônio Giudice, as paredes coloridas e as mesas para atividades artísticas saltam aos olhos. A diversidade de livros, dispostos nas prateleiras frontalmente, também chama a atenção. Para o produtor do projeto, Renê de Palma, 28 anos, a estrutura foi pensada para que o espaço fosse aconchegante e útil:
— Todos os livros têm as temáticas alinhadas com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (Organização das Nações Unidas), por isso têm histórias ligadas ao meio ambiente e inclusão social. Os exemplares também são organizados de uma forma diferente, pois há estudos que comprovam que muitas crianças têm medo de desorganizar os livros em bibliotecas convencionais.
O sorriso da diretora da escola, Rosane Kjellin, 44, diz tudo. Depois de ver a instituição ser engolida pela enchente, reconstruir um espaço para as crianças é algo que emociona a educadora:
— Fui eu que reabri os portões da escola quando a água baixou. Receber esse espaço colorido e lúdico me acolhe muito. Quando eu soube do projeto, acendeu uma chama de esperança. Dá um quentinho no coração.
*Produção: Elisa Heinski