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RECOMEÇO GAÚCHO

Um ano após a enchente, veja como está a Escola David Riegel Neto, restaurada pela comunidade

Instituição localizada em Eldorado do Sul, foi duramente afetada pela cheia de maio de 2024 e foi praticamente reconstruída, com doações e apoio de diferentes partes.

19/05/2025 - 16h43min

Atualizada em: 19/05/2025 - 16h44min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Camila Hermes/Agencia RBS
Atualmente, a escola conta com 650 alunos.

Eldorado do Sul foi uma das cidades mais afetadas pela enchente de maio de 2024. De forma devastadora, foi tomada pelas águas. No início daquele mês, a estimativa era de 20 mil a 30 mil desabrigados. Durante a cheia, o Diário Gaúcho acompanhou a situação da Escola Municipal de Ensino Fundamental David Riegel Neto, localizada no centro do município e duramente afetada pela enchente.

Agora, um ano após o episódio, o cenário é outro. As paredes marcadas de marrom pela lama e os móveis danificados deram lugar à esperança e ao cuidado dos funcionários, que reuniram forças para reerguer a escola. A partir de muitas doações e apoio de diferentes partes do Brasil, a David Riegel Neto foi reconstruída praticamente do zero.

Atualmente, a escola conta com 650 alunos. Antes da enchente, eram 800. A maior defasagem está no turno da noite, com alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Dos 150, apenas 80 voltaram. A estrutura da instituição também está quase finalizada. Com móveis doados e uma biblioteca improvisada, o que se vê é uma escola restaurada pela comunidade. Além disso, conta com uma novidade: a empresa Soprano, de Caxias do Sul, na serra gaúcha, irá realizar uma ação durante o mês de maio para fazer reparos nas salas administrativas, que foram deixadas de lado no início para a reforma de espaços que contemplavam os alunos. A iniciativa irá entregar móveis novos e a pintura de salas. 

— Com esse apoio, acredito que a escola vai voltar a ser o que era — diz, esperançoso, o diretor Adriano Figueiredo.

A retomada 

A David Riegel Neto foi a primeira escola a reabrir em Eldorado do Sul após a enchente, no dia 18 de junho. À medida que a calamidade era contida, a escola ficou com novos ares. Foram realizadas limpezas das caixas d’água, higienização dos aparelhos de ar- condicionado e a troca da parte elétrica. Adriano destaca que as doações foram essenciais para o recomeço. Kits com materiais escolares foram montados para os alunos a partir de contribuições de outras cidades, incluindo de fora do Estado. 

— Recebemos muito apoio de pessoas de fora. Inclusive uma escola do interior do Estado nos mandou material escolar para que pudéssemos doar para os alunos — destaca o diretor.

Julio Haag, 37 anos, é professor das turmas do 1° e 5° anos do Ensino Fundamental e foi um dos braços que reergueram a escola. Morador de Porto Alegre, ficou um mês fora de casa. Ainda assim, saía às 5h da Capital para chegar a Eldorado:

— Quando nós chegamos lá, ainda estava tudo muito molhado, muito úmido ainda. Muitos insetos, animais e cobras. E tudo destruído. Salas estavam reviradas, muita lama e armários caídos com muitos livros — relembra o professor.

Mesmo com o cenário caótico diante de seus olhos, a vontade de reconstruir um espaço que era tão importante prevaleceu.

O nosso objetivo era colocar as crianças para dentro da escola. Tentar voltar e reabrir a escola da forma mais simples e segura possível — ressalta o professor.

Camila Hermes/Agencia RBS
Salas de aula estão com pisos novos.

Quando a água baixou

Para o diretor – e muitos gaúchos – a rotina na época da cheia era monitorar o nível do Guaíba. Adriano foi o primeiro que viu a escola quando conseguiu chegar no centro de Eldorado, no dia 18 de maio. A situação era drástica. A água atingiu 2 metros de altura no local. Morador de Porto Alegre, o diretor se deslocou da Capital para o município pelo corredor humanitário, construído para que veículos pudessem trazer doações e ajuda. Outros alagamentos já haviam atingido Eldorado, diz Adriano, mas foi a primeira vez que a água alcançou a escola:

— Praticamente tudo foi destruído. Tudo o que era de madeira, computadores, impressoras e tudo que envolve tecnologia.

A primeira movimentação de reconstrução da escola, uma semana depois da cheia, foi com apoio de professores voluntários que estavam em cidades vizinhas e que conseguiram se deslocar para ajudar. 

Mas muitos profissionais tinham perdido suas próprias casas. É o caso da professora Andrea Machado, 53 anos, moradora da Ilha da Pintada. Ela perdeu tudo o que tinha dentro de sua casa, inclusive seu carro, mas a maior preocupação era com os animais que tinha: 

— Eu e meu marido saímos de casa em cima de uma lancha e não consegui levar meus cachorros — diz.

Com auxílio de voluntários, os animais foram encontrados. E mesmo com a casa inundada, Andrea foi ajudar na escola. Hoje, após um ano, ainda tem medo dos dias de chuva e sente o aperto dos momentos tristes que viveu. Mas diz, com orgulho, que auxiliou o lugar onde trabalha há 35 anos.

Camila Hermes/Agencia RBS
Espaços administrativos ainda contam com móveis doados.

"A gente conseguiu"

De acordo com o professor Julio, as crianças foram voltando aos poucos, pois as famílias tinham perdido tudo, até a casa. Uma busca ativa foi realizada para mapear os alunos e muitos estavam fora do município. Para a professora Franciele Ribeiro, 35 anos, que trabalha com duas turmas do 1° ano no turno integral, todo o esforço valia a pena para poder acolher os alunos:

— Na hora do sufoco, a gente pensou que nunca mais seria possível colocar o pé dentro de uma sala de aula. Foi uma coisa de equipe, de querer fazer alguma coisa pelo lugar em que tu passas a maior parte do teu tempo. 

Ela também destaca a importância de ter voluntários no primeiro momento para começar a limpar os entulhos:

— Até hoje, a gente olha o pátio da escola e a gente não acredita. Só conseguimos pensar: “Olha, a gente conseguiu”. A gente reconstruiu a nossa segunda casa — diz Franciele, emocionada.

*Produção: Ana Júlia Santos


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