Solidariedade
Violinista da Lomba do Pinheiro compra instrumento com ajuda de vaquinha
Desde que começou a estudar música, Mariana Alves sempre usou violinos emprestados. Agora, ela sonha com oportunidades maiores


Em pouco menos de um dia, a vaquinha criada por Mariana Bento Alves para comprar seu primeiro violino superou a meta de arrecadação. Foram 198 doações e mais de R$ 17 mil coletados. O resultado, agora, é que a jovem violinista, que sempre usou instrumentos emprestados, pode sonhar em ser ainda mais ouvida: seja pela potência do som da nova aquisição ou pelas novas oportunidades que ser dona de um instrumento oferece.
— Ter um instrumento próprio é um peso tirado das costas — descreve a jovem.
Em 20 de março, o Diário Gaúcho contou a história de Mariana e de sua ação coletiva para arrecadar recursos.
Até então, aos 20 anos, ela sempre usara violinos emprestados de professores ou dos projetos sociais que integrava. Porém, essa situação a limitava. Era mais difícil buscar outras oportunidades fora do Estado, por exemplo.
A meta era arrecadar R$ 15 mil e foi batida no mesmo dia da publicação da matéria.
— Eu achei que ia demorar. Mas eu ficava olhando a vaquinha de cinco em cinco minutos, porque a toda hora entrava algum valor. E na mesma noite bateu a meta. Foi muito bom — conta.
Projeto social
Moradora da Lomba do Pinheiro, na zona leste de Porto Alegre, a jovem iniciou os estudos de violino em um projeto social no seu bairro. Aos 14 anos, ela encontrou na música uma fuga para seu quadro depressivo e um novo futuro se abriu a sua frente.
Agora, após as doações e a compra de outro instrumento, ela descreve o sentimento como de gratidão, não apenas pelos valores doados, mas também pelas pessoas que a apoiaram. Primeiro a sogra, que criou a vaquinha no site, e depois os amigos, que gravaram vídeos tocando com ela para divulgação.
— Foi uma vaquinha que não era só sobre mim ou sobre quem doou. Era algo que todo mundo pegou juntinho. E isso foi o que mais me emocionou — relembra.
"O som dele é brilhante"
A escolha de um novo instrumento é muito particular para cada músico. Alguns preferem sons mais leves e vibrantes, outros, sons mais graves e encorpados. Contudo, para Mariana, essa escolha ainda parecia uma abstração. Foi a primeira vez que a estudante pôde escolher o que a agradasse. Por isso, não sabia exatamente o que procurar. Quem a ajudou nessa busca foi sua professora no projeto da Orquestra Jovem do Theatro São Pedro.
— O lance de comprar um instrumento é que tem que casar tudo: tem que ter o dinheiro, uma pessoa vendendo e um instrumento bom na mesma hora — explica Marina Lopes, violinista da Orquestra do Theatro São Pedro e professora do projeto.
E foi isso que aconteceu. O violino comprado pertencia a um músico da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa). Veio da Alemanha para o Rio de Janeiro e estava há sete anos sendo usado aqui na Capital. Segundo a professora, esse foi um diferencial, porque significava que ele estava bem adaptado ao clima daqui.
A madeira de que são construídos os instrumentos é muito sensível e influenciada pelas características do ambiente. Em climas secos, é possível que rache. Quando há umidade em demasia, a cola que une tudo perde força e eles podem se abrir.
— Esse é um instrumento saudável e com história. Nos primeiros anos (após a fabricação), é comum que o som mude muito. Mas esse é um que estava sendo tocado aqui — aponta a professora.
Com um tom amarelado, o violino tem alguns centímetros a menos do que aquele que Mariana usava. O som dele é cheio, brilhante e se projeta nos ambientes. A forma segue os padrões do luthier italiano Antonio Stradivarius (1644 – 1737), cujas obras atualmente podem valer milhões de dólares.
— O que eu mais gosto dele é o timbre das cordas graves. É difícil ter um timbre da corda grave boa e não soando embolado. Eu acho que isso que me pegou mais. O som dele é mais aberto, brilhante — descreve Mariana.
De olho no futuro
Até agora, toda formação musical de Mariana se deu por meio de projetos sociais. Primeiro, com a Orquestra São Francisco, uma parceria do Centro de Promoção da Criança e do Adolescente (CPCA) com a Orquestra Villa-Lobos. Depois, ela passou a integrar a Orquestra Jovem do Theatro São Pedro, tendo aulas individuais de violino.
Na reportagem de março, ela contou que seu sonho era passar no bacharelado em violino da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). As provas, porém, ocorrem apenas no fim do ano, perto do vestibular.
Até lá, ela tem feito testes para outras orquestras e universidades dentro e fora do Estado. Hoje, ela participa também da Orquestra Jovem Florescer, de Caxias do Sul, uma parceria da empresa Randoncorp com o projeto Mais Música.
*Produção: Guilherme Freling