"Vamos até o fim"
Casal que está junto há 72 anos conta sua história de amor; veja vídeo
Nélida e Eracildo revelam como superaram desafios e mantiveram o sentimento um pelo outro depois de tanto tempo.

No dia 27 de maio de 1953, um casal de Quaraí, na fronteira oeste do Estado, disse sim um ao outro. Nélida Bueno, que virou Silva, na época com 17 anos, se casou com Eracildo da Silva, que tinha 21. Até aí, uma história que deve ter se repetido diversas vezes no cartório no município que não é do Uruguai por questão de metros. Porém, o diferencial é que o compromisso assumido pelo casal se estende até hoje. São 72 anos da união firmada em papel, que foram comemorados no último dia 27.
Em alusão ao Dia dos Namorados, a reportagem do Diário Gaúcho visitou o casal em sua casa na Restinga Nova, na zona sul de Porto Alegre, para conhecer sua história e entender o que faz um amor perdurar por tanto tempo.
Nélida, agora com 89 anos, e Eracildo, com 93, se conheceram na igreja, por meio da música. O jovem tocava violão no Exército da Salvação, em Quaraí. Já ela, apesar de ter nascido na cidade vizinha uruguaia, Artigas, cantava na mesma instituição.
— Ele ia tocar violão e eu ficava do lado enchendo o saco — explica a aposentada.
— Cantando, pra me enganar — completa o ex-militar.
O encontro virou um namoro, que precisava ser às escondidas, já que não tinham aprovação da família. Mas mesmo por baixo dos panos, eles sempre encontravam formas de se ver.
— E eu até as janelas pulava pra ver ele. Apanhava da minha mãe que dava gosto — conta Nélida.
O namoro foi típico de famílias religiosas e do interior: cheio de pudores. Pouco contato físico e muita supervisão:
— A gente ficava em um sofá comprido na sala. A minha mãe de um lado, eu no meio, o Eracildo e o meu irmão no outro lado. Não tinha essas coisas de chegar se agarrando. E quando ia embora, ia lá no portão. Não tinha beijo, nem abraço.
Grande família
Quando vieram morar em Porto Alegre, em 1959, o casal teve seis filhos. Os homens, todos com nomes com a letra "O", e as mulheres, "S". São eles: Osvaldo, 70 anos, Orlando, 66, Onofre, que faleceu com 64, Suzana, 61, Sueli, que faleceu com 58, e Silvia, 55. Na Capital, Eracildo entrou para a Brigada Militar e Nélida trabalhou como atendente de hospital, onde se aposentaram. Agora, também têm sete netos e sete bisnetos.
Hoje em dia, a rotina é calma, garante a caçula Silvia, que passa boa parte do tempo com os pais na Restinga. Mesmo depois de tanto tempo, o carinho prevalece entre o casal, e a filha testemunha:
— Ela é muito parceira do pai. Se ele tá sozinho lá vendo o jogo, ela fica com ele. Ela pode estar com frio, mas ela fica lá olhando o jogo com ele. Já ele, se a mãe dá uma saidinha, ele fica esperando ela na janela. E eu tô aqui, mas não interessa: é ela que ele quer.
Respeito é fundamental

Em um mundo tão instável como o atual, as novas formas de se relacionar geram certo estranhamento no casal. Porém, para responder a pergunta sobre o que é importante para ficar tanto tempo juntos, eles concordam: respeito. Segundo eles, é preciso ter muita paciência para encarar as adversidades da vida em sintonia um com o outro.
— Nunca brigamos assim de se mandar longe. De "não quero mais, nem dorme na minha cama". Não. Na minha cama tem que dormir de conchinha _ destaca Nélida, entre risadas.
E completa:
— É só ter paciência. Os problemas vêm, né? E vêm muitos problemas. E vem muita queda. Mas a pessoa tem que ter paciência e amor.
Nélida é falante, vibrante e alegre, já Eracildo é mais quieto e introspectivo. A teoria de que os opostos se atraem realmente faz sentido quando se olha para os dois juntos. Enquanto a aposentada canta, o ex-militar ouve e sorri. Nos momentos em que ele resolve falar, ela o admira e o ajuda a completar o raciocínio. Os apelidos carinhosos "meu jovem" e "ma" (de magro) saem da boca de Nélida espontaneamente. A conversa é franca e leve, e o amor é visível a olho nu.
— Vamos até o fim agora. Vamos ver até onde Deus quer — conclui a aposentada.
*Produção: Elisa Heinski