Direto da Redação
Elisa Heinski: "Cartas de amor ridículas"
Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano


Todas as cartas de amor são ridículas. Desculpe o afronte, mas quem disse isso não fui eu, foi Fernando Pessoa. Lendo assim, pode parecer que sou amargurada, que não acredito no amor. Mas é bem pelo contrário. Sou uma entusiasta do tema. Adoro assistir a comédias românticas. Um dos meus filmes favoritos é A Culpa é das Estrelas e as músicas que curto são sempre falando de amor. Você já percebeu que as melhores canções existentes são sobre isso? No auge da minha juventude, não vejo outra saída senão acreditar no amor.
Tudo começa com a paixão. Eu adoro ficar apaixonada. Aquela sensação de sorrir só de pensar na pessoa, de ficar bobo, quase incoerente — muitas vezes, inconsequente — não tem igual. Chega a ser idiota, mas não deixa de ser lindo.
Depois, se o flerte for correspondido, começa a fase do “ficar”. Antes do pedido oficial — que muitos não veem necessidade — surgem os “será que está muito cedo”? Pra apresentar pros pais, pra viajar junto, pra dizer eu te amo…
E aí o namoro. O frio na barriga das primeiras vezes de quem está aprendendo a conviver. De quem está conhecendo os defeitos que vai escolher aguentar. De juntar os trapos, chorar e rir misturado.
E, às vezes, acaba. Tem debulhar de lágrimas, juras desfeitas e muita raiva. O entender seus sonhos, alinhar expectativas e se redescobrir sozinho. Tem o “eu não acredito mais no amor” enquanto assiste Diário de uma Paixão e ouve Maria Bethânia.
Mas depois de um tempo, vem a esperança. A emoção quando vê um casal bem velhinho, com rugas que já preenchem toda a face e um sorriso que insiste em aparecer quando olham um para o outro. Aquele quentinho no peito ouvindo as canções do Tim Bernardes. Vem a alegria espontânea lembrando dos momentos em que estava amando — e sonhando que aconteçam de novo. E, de repente, chega alguém que reacende a vontade de escrever cartas de amor bem ridículas. E que te faz até querer citar poetas no jornal.