Berço de startups
Enchente em Porto Alegre: um ano depois, 4º Distrito retoma atividades com criatividade e resiliência
Local abriga mais de 500 empresas de tecnologia e inovação. Criado em 2019, o espaço é símbolo da economia criativa da Capital, que representa 28% dos negócios locais

Um ano após enfrentar a maior tragédia natural de sua história, o 4º Distrito, na zona norte de Porto Alegre dá sinais claros de renascimento. A região, conhecida por abrigar o Instituto Caldeira e centenas de startups, foi duramente atingida pela enchente de maio de 2024, quando as águas do Guaíba transbordaram e invadiram a capital gaúcha.
Entre as empresas afetadas estava a Pix Force, especializada em análise de imagens por software. Luciana Calabria, funcionária da startup, relembra o caos daqueles dias.
— A gente não sabia que a água ia subir tão rápido. Não tínhamos ideia do que iria acontecer. Todo mundo ficou: e agora?
O prejuízo da empresa ultrapassou os R$ 3 milhões.
No dia 3 de maio, o prédio do Instituto Caldeira estava completamente submerso.
Recebemos um aviso para não comparecer. Depois de 20 dias, consegui entrar de barco. Não sobrou nada. Tudo virou lama e sucata
Reconstrução
O Instituto Caldeira, instalado na antiga fábrica da Renner (1918), abriga mais de 500 empresas de tecnologia e inovação. Criado em 2019, o espaço é símbolo da economia criativa da Capital, que representa 28% dos negócios locais.
Uma placa na entrada do prédio marca a altura que a água atingiu. Para Pedro Valério, diretor executivo do Instituto, o símbolo é mais do que memória:
— É um registro que nos aponta a pensar no futuro. Ser resiliente, recriar, pensar diferente. Mais inovador ainda.
Pedro destaca que a tragédia também impulsionou soluções.
Muitas startups aqui dentro passaram a desenvolver tecnologias para prevenir desastres como esse. Isso nasceu da dor.
Retomada
Logo após a água baixar, um mutirão de limpeza mobilizou mais de 300 voluntários.

— Todo mundo botou a mão na massa. A criatividade fez a diferença. É conseguir ter outro olhar para a tragédia.
A reconstrução da Pix Force foi impulsionada por uma rede de apoio nacional e internacional.
— Clientes do Brasil e do Exterior perguntaram como ajudar. Negociaram prazos, realocaram recursos. Foi emocionante — relembra Luciana.
Apesar das perdas materiais — estimadas em mais de R$ 25 milhões — Pedro afirma que a tragédia deixou desafios:
A enchente não levou nossos sonhos. Estamos modelando uma visão de futuro.
PEDRO VALÉRIO
Futuro
Hoje, o Instituto Caldeira voltou a funcionar com força total. Novos espaços estão em desenvolvimento, como um centro cultural, e projetos como o Geração Caldeira, que já formou 35 mil alunos da rede pública, seguem em expansão.
O case de recuperação do Instituto ganhou destaque internacional:
— Fomos convidados para palestrar na Europa e nos Estados Unidos. Mostramos como transformamos a crise em oportunidade.
Com otimismo, Pedro projeta o futuro:
— Na maior tragédia pode estar a maior oportunidade. Essa é a lente que a gente acredita. Seguir em frente, com coragem e inovação.