Abandono
Erosão no Arroio Passinhos ameaça a segurança de moradores em Cachoeirinha
Em alguns pontos, o desmoronamento já levou metade da via. Prefeitura diz que obras de recuperação iniciam até o fim do ano

Transitar pela Rua Telmo Silveira Dorneles, em Cachoeirinha, tem sido uma atividade arriscada. Na maior parte do trecho, a precariedade das margens do Arroio Passinhos está, pouco a pouco, levando o solo que sustenta o asfalto. Em alguns pontos, a erosão já atinge metade da rua. Até uma ponte precisou ser interditada por falta de segurança.
— Quando dá uma enxurrada muito grande, a água sobe e vai levando esses trechos — afirma Délcio Bazotti, que mora na região desde 1994.
Segundo moradores, a obra de canalização no arroio foi concluída há mais de 35 anos. Como o curso d’água recebia esgoto, o acúmulo de lixo e dejetos no leito gerava mau cheiro. Diante disso, a prefeitura realizou um trabalho de limpeza desses resíduos por volta do ano 2000.
Para Délcio, foi essa intervenção que deu início ao problema. O trabalho removeu também a laje que ficava no fundo. Assim, a água começou a se infiltrar nas laterais e a enfraquecer as calhas.
Ao longo dos anos, foi necessário fazer remendos e reconstruções parciais do muro que fica em volta do curso d’água. Porém, a situação se tornou inviável no ano passado com as chuvas de maio.
— Está bem grave já faz um ano. Quando deu a enchente, ele desmoronou mais, mas cada chuva forte que dá ele vai escavando — relata Ivanir Selau, sócia de uma empresa de caçambas de entulhos que fica na rua.
Trânsito
O ponto mais grave fica na altura do número 651. A cratera é tão grande que já reduziu à metade o trecho de asfalto em que é possível passar. Por enquanto, a prefeitura aposta em sinalização com objetos de plástico isolando o local.
Maria Cenira Martins, que reside na região há mais de 30 anos, diz que se sente abandonada pelas autoridades. Ela lembra que esses problemas de infraestrutura pública acabam desvalorizando os imóveis.
— Algumas pessoas daquele prédio (em frente ao trecho) já colocaram os apartamentos à venda, mas está tudo desvalorizado — relata.
A comunidade tem se organizado para cobrar medidas do poder público. Na semana passada, por exemplo, eles tiveram uma reunião com o secretário municipal de Planejamento para apresentar suas reivindicações.
— O resumo é: promessa e nada cumprido — diz a moradora.
Ponte interditada
Outro trecho que compromete a circulação na região fica no final da rua. Ali, a ponte que conectava a Telmo da Silveira Dorneles à João Francisco da Silva precisou ser interditada.
Segundo Neuza Maria Rodrigues, proprietária de um terreno nesse ponto, a passagem está interditada há cerca de um ano. Com isso, a placa indicando que o trecho não tem mais saída é insuficiente. Alguns condutores acabam fazendo o retorno em um espaço estreito e retornam na contramão.

Para chamar transporte por aplicativo, os moradores relatam que precisam esperar no outro lado do arroio, próximo a uma igreja.
— Atrapalha todo mundo. Até tem uma placa mais adiante dizendo que o trânsito está interrompido, mas quem não vê tem dificuldade de fazer o retorno aqui — diz a leitora.
Reparo ficou para o segundo semestre
Uma conclusão definitiva para os problemas ainda parece distante. Segundo o secretário municipal de Planejamento, Paulo Garcia, o município tem se esforçado para resolver a situação.
— Tu não tem ideia do quanto a gente sofre para iniciar essa obra. Todos os dias a gente pensa nisso. O governo deseja o início e a entrega da obra para a população — afirma o secretário.

Com o agravamento dos problemas causado pela enchente, a prefeitura buscou dinheiro do governo federal dentre os recursos disponíveis para a reconstrução do Estado.
O projeto desenhado pelas equipes do município prevê um gasto de cerca de R$ 30 milhões. O titular da pasta afirma que conseguiu um aporte de R$ 19 milhões do governo federal e o restante pela própria prefeitura.
— A gente está só aguardando um documento que nos autoriza a lançar a licitação — detalha ele.
Mesmo assim, os moradores terão que aguardar. A previsão é de que a obra se inicie apenas no segundo semestre deste ano e leve cerca de 12 meses para ser concluída.
*Produção: Guilherme Freling