A gente poderia estar em um bar ou restaurante, no momento em que a comida já foi saboreada, o botão do jeans abriu discretamente e o sistema digestivo iniciou os trabalhos. Quando só nos resta fazer aquele movimento no ar que o garçom sempre entende e aguardar a chegada da dolorosa. Então, ao conferir o que se comeu e bebeu com o valor cobrado, dizer a frase que dá título a essa coluna: “A conta não fecha”. Tem cinco refris, e foram dois. Tem uma porção de fritas a mais. Ou ninguém pediu filé.

Reclamar que a conta não fecha nesse tipo de situação é esperado e justo. Fora as dúvidas de pessoas como eu, que se atrapalham com números. O problema é usar essa expressão a torto e a direito. Chove e a previsão do tempo era de sol? A conta não fecha. Fulana reclama que vive sem dinheiro e posta foto em Paris? A conta não fecha. O namorado some por dias, responde mensagens só com joinha e diz que a namorada está distante? A conta não fecha.

Contexto

Achem outra maneira de criticar o meteorologista, a fulana e o namorado. Explorem as maravilhas da língua portuguesa e usem palavras que façam mais sentido no contexto. Se o assunto for matemático, bora pegar papel de pão e fazer contas reais. Todo celular tem calculadora, cada mão tem cinco dedos que ajudam no cálculo e existem sortudos que conseguem a façanha de fazer conta de cabeça (parabéns!). A conta vai fechar se dividir, somar, multiplicar, subtrair.

Pode ser implicância minha, assim como a que eu tenho com a palavra afinal. E tem as expressões que já caducaram, nem deveriam mais estar entre nós. Esses dias, vi uma placa “Obras a todo vapor”. Vapor do trem ou da chaleira? Fiquei a ver navios. Essa também não dá. A menos que você esteja em alto mar, observando o trânsito marítimo. Hoje em dia, com tantas opções de transporte e carros sendo dirigidos por robôs, por que lembrar de vapor de trem e navio? A conta não fecha.

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