Coluna da Maga
Magali Moraes: que horas são?
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho


Eu queria ser como um relógio de micro-ondas, que não se importa com as horas. Sem generalizar, é o que observo aqui em casa. Convivo com um forno que aquece, degela, faz pipoca, deixa a cozinha bonita e serve até como espelho, só não funciona pra informar o horário. Nem tente ver que horas são, que você vai se confundir. O relógio do micro-ondas vive no tempo dele, que é diferente do nosso. Já cansei de arrumar as horas, a alegria dura pouco. Ele se governa… ou adianta ou atrasa.
Quem está certo? A gente, que vive na correria contando os minutos e segundos pra tudo? Ou o relógio de micro-ondas, que teoricamente não pensa mas faz pensar? Por que vivemos de olho na passagem do tempo? Se gastasse a tela do celular de tanto olhar as horas, eu já teria mais esse gasto. Os antigos se organizavam observando a presença do sol e as mudanças de sua posição ao longo do dia. Poético e nada prático, quem tem tempo sobrando pra analisar sombras e luzes?
Tecla
Antes que alguma organização protetora dos relógios de micro-ondas se manifeste, deixo claro que a tecla de um minuto realmente funciona em 60 segundos. Também se eu programo o tempo de aquecimento, dá certo. A única coisa que foge do controle é descobrir que horas são. Tão simples, né? Três da tarde, nove da manhã, o básico. Não existe lógica. Seria mais fácil se ele vivesse num eterno Horário de Verão (saudade), e a confusão fosse apenas uma hora a mais ou a menos.
Pra não me irritar, às vezes imagino que o meu micro-ondas é um viajante no tempo. O aparelho continua no balcão, mas seu espírito vaga livremente por outros lugares com fusos horários variados. Parece que está ali, esperando pra aquecer o café com leite, quando na verdade ele cruzou oceanos e está passeando nos Alpes Suíços (quem sabe ordenhando vacas), num pueblo espanhol ou numa praia da Ásia. Um relógio que gasta suas horas de um jeito bem mais interessante do que eu.