Coluna da Maga
Magali Moraes: virar o cartão
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho


A gente se vira enquanto não vira o cartão. Se você costuma pagar tudo com pix ou dinheiro vivo (ainda existe isso?), não sabe o que está perdendo. É aquele momento do mês em que se puxa o freio das compras, respira fundo e pratica a resiliência. Não adianta, tem que esperar o cartão virar pra cair na próxima fatura, lá adiante. O famoso empurra com a barriga. Quem nunca esqueceu desse pequeno grande detalhe, passou o cartão sem cuidar a data de vencimento e acabou pagando antes do que gostaria?
Virar o cartão é uma experiência tipicamente brasileira, eu arrisco dizer que é um hábito de Norte a Sul do país. Até que o maldito vire, as calças das crianças vão continuar marrecas. O tênis seguirá apertado. O pacote de viagem será apenas um sonho. A lava-roupas, que não funciona mais, seguirá parada. E a cadeira da sala, quebrada. Aliás, continuaremos todos quebrados. Planos serão adiados, é o jeito. E pode ter certeza que esses dias e semanas vão se arrastar. Coragem!
Nascimento
Aqui vai um parágrafo feito especialmente pra te ajudar a esperar o cartão virar. Pensa em outras esperas longas: um financiamento de dez anos demora muito mais. O nascimento de um filho, também. Esperar nove meses é um exercício de paciência. Se comparar, o cartão vira rapidinho. A gente não espera sempre o fíndi? E hoje é recém segunda-feira. Espera o Uber chegar. As férias. Quantos já estão na contagem regressiva pro verão? Calma que o cartão vai virar bem mais rápido.
E finalmente acontece. Aleluia! É dia de festa! Eu entendo se alguém se entusiasmar e soltar fogos de artifício. Que alívio, virou! Agora a vida anda, o humor muda, a geladeira enche, o armário lota, a viagem sai. Acabou a pindaíba. Nossos esforços foram recompensados, valeu a pena esperar. Tomara que essa espera te faça pensar duas vezes antes de se atolar em compras online. A alegria é real, mas dura pouco. Logo a história se repete.