Piquetchê do DG
"Não haverá ruptura" em relação à gestão anterior da pasta, diz novo secretário Estadual da Cultura
Após polêmica a respeito da troca na titularidade da pasta, Eduardo Loureiro fala sobre seus planos para o tradicionalismo e sua visão da cultura do RS

Recém-chegado ao cargo, o novo secretário de Cultura do Rio Grande do Sul diz que não haverá ruptura com a gestão anterior, mas defende mais espaço para o tradicionalismo.
— Nós temos aqui um conjunto de costumes e tradições, que a gente precisa valorizar — afirma.
Sua posse ocorreu no início de maio, após uma forte mobilização do setor cultural em favor da permanência de sua antecessora, Beatriz Araujo.
Nesta entrevista ao Piquetchê do DG, Eduardo Loureiro apresenta alguns objetivos e detalha sua visão da cultura gaúcha.
Ele tem planos para destinar mais recursos para o tradicionalismo, instalar um colegiado de escutar ao setor e realizar eventos para marcar os 400 anos das reduções jesuíticas do Estado.

O que o senhor pensa sobre a cultura feita hoje no RS?
Acima de tudo, a cultura gaúcha expressa a nossa identidade. Nós temos aqui um conjunto de costumes e tradições, que a gente precisa valorizar. Os espaços ocupados pelas nossas entidades são de cultura, e esse conjunto que faz parte das nossas tradições, forma a nossa identidade. Tudo aquilo que faz parte da nossa história vai merecer a nossa atenção.
Mas é só tradicionalismo?
Não, claro, estou falando das questões típicas do Rio Grande do Sul, o tradicionalismo é uma delas. A cultura gaúcha envolve uma série de questões típicas nossas.
O senhor criou uma coordenadoria voltada ao tradicionalismo. Qual é o objetivo dela?
É um setor, que conta com uma estrutura para trabalhar questões, políticas e ações voltadas à valorização da cultura gaúcha. Não criamos nenhuma estrutura a mais, apenas utilizamos a que já temos.
A coordenadora é a Denise Gress, que tem todo um conhecimento, uma ligação, um vínculo com esse tema. Ela preside a Comissão dos Festejos Farroupilhas.
A cultura gaúcha expressa, acima de tudo, a nossa identidade
EDUARDO LOUREIRO
Secretário de Cultura do RS
Também tem um colegiado. A gente ainda está estruturando, mas é uma representação do movimento. Vai ser integrado por algumas entidades que representam efetivamente o setor para a gente poder ter um espaço de diálogo, fazer uma escuta permanente.
Há previsão para esse colegiado começar a funcionar?
No máximo, até junho, tem de estar instalado.
Quando o senhor entregar o cargo, o que vai considerar como uma política bem-sucedida dessa coordenadoria?
Espero que, brevemente, a gente possa ter aqui políticas de fomento. Recursos que a gente possa destinar para fomentar essas atividades realizadas por entidades, associações, que trabalhem com essa temática.
Isso envolve os nossos centros de tradição gaúcha, associações, que têm os seus projetos, por exemplo, as invernadas nos CTGs.
Nós temos muitas demandas de entidades que buscam algum recurso para poder melhorar a sua infraestrutura e para realizar eventos, que também vão merecer uma atenção de nossa parte com a destinação de recursos. A nossa ideia é lançar um edital com esse objetivo.
O movimento tradicionalista vai ter um tratamento diferenciado?
Não, vai ter um tratamento que eu acho que outras entidades, outros movimentos estão tendo também. A cultura é uma área diversa, ampla, expressiva. Não se trata de ter privilégios. É simplesmente trazer todo mundo para o mesmo patamar.
Antes do senhor assumir, houve mobilização em favor da sua antecessora, Beatriz Araujo. O que tem feito para vencer essa resistência e conseguir implementar as suas ideias?
Não vamos promover nenhum tipo de ruptura. Acho que o trabalho da Bia foi um bom trabalho. Acho que ela colocou a cultura num patamar bastante importante, fomentando várias atividades com recursos. Tudo isso vai continuar.
Nós não vamos promover nenhum tipo de ruptura
EDUARDO LOUREIRO
Secretário de Cultura do RS
E eu assumo, logicamente, com essa missão não só de manter, de tentar fortalecer tudo aquilo que vinha sendo realizado, e de coordenar os 400 anos das missões (jesuíticas), de promover uma política de fomento também à cultura gaúcha, ao tradicionalismo, à nossa identidade, e acho que tem um espaço aí para a gente avançar.
O que está sendo organizado a respeito dos 400 anos das reduções jesuíticas?
Nós temos um decreto assinado pelo governador, estabelecendo o ano de 2026 como o marco dos 400 anos (das missões jesuíticas). Um reconhecimento oficial.
Tem uma comissão, que não foi instalada ainda, mas que já foi constituída por decreto. São 45 entidades que formam essa comissão: universidades, órgãos públicos, prefeituras e tem uma comissão-executiva, que passou a ser coordenada pela Secretaria de Cultura.
A ideia é movimentar esse colegiado para formatar, organizar, prever uma série de ações, que ainda não está toda definida.
Tem algum exemplo?
Projetos culturais, como festival de música, cavalgada, produção de documentário, construção de monumentos alusivos à data em determinados territórios. Tudo são projetos. Temos também um programa de desenvolvimento, que já está bem adiantado. Por exemplo, ampliação de museus, construção e instalação de centros de informação das reduções missioneiras.
Projetos na área da educação, trabalhar esse tema nas escolas para divulgar a história das missões. Possivelmente no mês de junho, haverá a assinatura dos primeiros convênios. São investimentos de quase R$ 40 milhões.
Eu basicamente dividiria em infraestrutura — equipamentos de cultura, turismo, apoio a aldeias guaranis da região — e as festividades em si — que são os eventos culturais, artísticos, que estão sendo ainda formatados.
Qual vai ser a participação das populações indígenas nessa organização?
Temos projetos de fomentar, apoiar as aldeias da região, desde projetos de artesanato, melhoria na infraestrutura deles, enfim, tem eventos e outras iniciativas que ainda estão sendo formuladas, mas é nessa linha.
Produção: Guilherme Freling