Trauma
“Não vou pagar para ver”: moradores deixam Região das Ilhas preventivamente para evitar cenário da enchente de 2024
Na Pintada, quem vive mais perto ao Rio Jacuí começa a retirar pertences e buscar abrigo, mesmo sem orientação oficial para evacuação

A tarde desta quinta-feira (19) é marcada por intensa movimentação de carros e caminhões na Ilha da Pintada. Mesmo sem orientação oficial para evacuação, diversos moradores começaram a sair preventivamente das casas mais próximas do Rio Jacuí.
Trechos da Rua Nossa Senhora da Boa Viagem estavam cobertos por água desde o início da manhã. Ao longo do dia, alagamentos foram avançando pela via.
A reportagem de Zero Hora esteve no local. Às 15h20min, a régua instalada dentro do rio, no ponto onde fica o Recanto da Oxum, indicava 1m80cm. Ao meio-dia, a medição estava em 1m72cm.
Moradores da rua se dividiam entre aqueles que já optaram por sair e outros que acreditam que é possível permanecer. Uma parcela também optou por retirar carros e móveis de maior valor.
Muitos relatam que estavam acostumados com a inundação na rua, mas que, com o trauma de maio do ano passado, preferiram prevenir.
— Eu não vou pagar pra ver. Tirei alguns eletrodomésticos. O pouco que ganhei, não quero perder tudo de novo. Vou esperar um pouco mais, mas, assim que piorar, vou para o abrigo. Depois, fica sem condições de ficar em casa — disse Fabiana do Carmo, 50 anos.
Dona de uma lancheria na Rua Capitão Coelho, Elida de Almeida Ramos optou por retirar tudo do estabelecimento.
— Esvaziamos por precaução, porque está para chegar água e a gente não sabe a proporção que vem, porque os rios estão muito assoreados ainda. Então, pode vir uma aguinha, pode, mas pode vir uma água até o teto novamente, e aí pra perder tudo que tu adquiriu, não é fácil pra reconstruir depois — diz, enquanto carregava um caminhão com os pertences.
Na Ilha das Flores, Claudia Maria, 33 anos, estava encaixotando o que conseguia. A ideia é ir para uma casa também na região, mas mais longe do banhado.
— A água entrou nos fundos do nosso pátio já. Meu esposo marcou a hora que chegou onde estava a água. Horas depois, já passou bastante. A gente tem medo, porque vem muito rápido. Não queremos esperar — relata Cláudia, ao lado das filhas crianças.
De acordo com a prefeitura de Porto Alegre, no início da tarde, 16 pessoas estavam abrigadas no espaço da KTO Arena, antigo Pepsi On Stage. São moradores do Humaitá e das Ilhas.