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Levantamento do Dmae

Por que abril e maio são os meses com mais rompimentos de adutoras de água em Porto Alegre

Variação térmica neste período é um dos fatores para ocorrências do tipo. Números totais apontam para queda gradual de problemas nos últimos seis anos

03/06/2025 - 09h49min


Ian Tâmbara
Ian Tâmbara
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Luciano Lanes/PMPA
Porto Alegre registrou 245 rompimentos de adutoras desde 2019.

O consumidor pode não reparar, mas os meses de abril e maio tiveram a maior concentração de casos de rompimento de adutoras em Porto Alegre nos últimos anos, conforme dados do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) levantados a pedido de Zero Hora. No período entre 2019 e 2024, os dois meses lideraram as ocorrências em quatro desses seis anos.

Em 2025, até agora, abril foi o mês recordista de rompimentos, com sete ocorrências. O conserto emergencial do vazamento em uma adutora na Estação de Bombeamento de Água Tratada (Ebat) Ouro Preto, por exemplo, deixou bairros das zonas Norte e Leste sem água por mais de quatro dias no fim do mês.

Os dados sugerem que esse período específico tende a ser mais vulnerável a esse tipo de incidente. O diretor-executivo do Dmae, Vicente Perrone, confirma que os rompimentos não acontecem por acaso nesses meses.

— A variação de temperatura é o que impacta no rompimento. Abril e maio têm aqueles dias em que a gente sai com cinco casacos, no meio da tarde está só de camisa e no final do dia é frio de novo. Então, isso para a adutora é péssimo, porque ela tem a dilatação dos materiais. Ela esquenta e alarga, esfria e estreita novamente — esclarece o diretor.

O que é uma adutora

Conforme o Dmae, adutoras são as tubulações com diâmetro superior a 300 milímetros.

O professor Rafael Manica, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS, compara a estrutura de uma adutora a uma avenida principal, que liga os veículos a outras ruas secundárias. Neste caso, o fluxo do trânsito seria o da água, que corre pelos encanamentos até chegar às residências.

Além da temperatura, consumo e obras explicam problemas

O professor da UFRGS vê sentido na explicação apresentada pelo Dmae. Manica ainda acrescenta outras razões que também podem contribuir para as ocorrências em adutoras, como o volume de consumo de água em determinados meses e obras que são feitas na rede.

— É como um efeito cascata. Digamos que rompe em um lugar, e o Dmae vai lá consertar. Aquele ponto fica mais forte. Mas e se a rede tem outros pontos frágeis? Ou seja, naquela linha recuperada em que a adutora ficou mais robusta, pode aumentar a capacidade daquela rede e passar um pouco mais de água. Com isso, romper outro ponto mais fraco — aponta Manica, que dá aula de hidráulica e é pesquisador de recursos hídricos no IPH.

Rompimentos têm queda gradual nos últimos anos

Desde 2019, Porto Alegre teve 245 rompimentos de adutoras de água.

O primeiro ano do levantamento foi, justamente, o mais crítico do período analisado. Foram 56 rompimentos registrados em 2019. Desde então, os números vêm diminuindo, até chegar aos 29 casos observados no ano passado.

Apesar da média mais baixa em 2025, o pico de sete rompimentos em abril representou o maior número mensal desde setembro de 2022. Caso o ritmo se mantenha, o ano pode terminar com uma elevação de ocorrências.

— Seguimos em um eixo normal, porque agora já passou o pior mês. A gente acredita que vai ser próximo entre 26 e 30 ocorrências — ameniza o diretor.

Regiões mais afetadas

Desde 2019, a Zona Sul se destaca com o maior número de ocorrências nos últimos anos, com 95 dos 245 rompimentos, o que corresponde a cerca de 38% dos registros. Em comparação, as zonas Norte e Leste tiveram 68 casos (27%), cada uma.

Perrone destaca dois fatores para justificar esses números. O primeiro é o fato de a Zona Sul concentrar um número maior de bairros e uma maior extensão territorial deles.

— A Zona Sul tem uma extensão de rede bem maior do que na Zona Norte. Essas tubulações maiores normalmente têm a característica de levar águas a áreas mais distantes — diz o diretor do Dmae.

O segundo fator é que a região tem adutoras mais antigas.

— Duas adutoras que eram antigas do Dmae, na Edgar Pires de Castro e na Oscar Pereira, sempre estouravam. Essas duas foram trocadas — exemplifica.

Luciano Lanes/PMPA
Especialista defende reforma e monitoramento da situação das adutoras.

O que fazer para melhorar

Para prevenir problemas assim, o Dmae tem investido na reforma de Ebats e em materiais novos para as adutoras, como explica o diretor Vicente Perrone:

— Na Zona Sul, tínhamos uma de pead (um tipo de plástico mais resistente). Era uma tecnologia um pouco pior, por isso estourava bastante e foi trocada. E tem outras que não se usam mais, como ferro fundido, concreto. Então, a tendência é melhorar em materiais, adutoras novas e manutenção preventiva.

Além das reformas, o monitoramento constante também é uma orientação importante, destaca o professor Manica, do IPH:

— Normalmente, essas adutoras são uma obra especial. Não é como ir a uma ferragem e comprar um tubo qualquer. É algo mais elaborado, com um prazo de vida longo. Seria importante ter algum sistema que monitore para não chegar a pontos em que a cidade tenha uma tubulação de 80, 90 anos de idade. Se ela for monitorada e estiver plena, que continue. Mas, muitas vezes, o que tem que ser evitado é aquele "só vamos mexer quando estoura".


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