Eu Sou do Samba
Projeto Um Só Pulsar promove oficinas musicais gratuitas e inclusivas em Porto Alegre
Colunista Alexandre Rodrigues escreve sobre Carnaval e samba todas as quintas-feiras


Percussionista, educadora e referência no Carnaval do sul do Brasil. Essa é Alexsandra Amaral, a Mestra Alê. Com mais de duas décadas de estrada, ela tem uma história marcada por uma missão clara: fazer da música um instrumento de transformação. É exatamente isso que a musicista vem colocando em prática com o projeto Um Só Pulsar POA RS — Oficina Musical de Percussão.
Contemplado por editais da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac) via Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), o projeto oferece oficinas musicais gratuitas em diferentes regiões da cidade, voltadas a pessoas que costumam ser deixadas de lado pelos circuitos culturais: PCDs, população LGBT+, crianças, jovens, idosos e a comunidade negra em situação de vulnerabilidade. As oficinas abrangem desde aulas de percussão e flauta doce até violão, guitarra e canto coral.
Com uma equipe formada majoritariamente por mulheres negras e profissionais da saúde e educação, o Um Só Pulsar vai muito além da técnica: é sobre pertencimento, escuta e valorização das raízes.
E quem conhece a caminhada da Mestra Alê sabe que ela fala com propriedade. Mulher preta e periférica, nascida e criada na Cohab Rubem Berta, zona norte de Porto Alegre, ela é uma das poucas mulheres a ocupar o posto de mestra de bateria no país. Já comandou os ritmistas das escolas Unidos do É o Tchan (Caxias do Sul), Imperatriz Leopoldense (São Leopoldo), Acadêmicos de Gravataí e Fidalgos e Aristocratas, além do bloco Ai que Saudade do Meu Ex, da ONG Misturaí.
Eu Sou do Samba bateu um papo com ela. Bora conferir.

Entrevista com Mestra Alê
De onde surgiu a ideia do projeto Um Só Pulsar?
Surgiu de uma demanda social. Eu vinha percebendo a necessidade de atender pessoas típicas e atípicas usando a música como ferramenta de comunicação e desenvolvimento. Também pensei nas famílias, sabe? Tipo: “Eles cuidam, mas quem cuida deles?”. A ideia é estarmos juntos.
De que forma as oficinas são adaptadas pra garantir acessibilidade e protagonismo?
A gente quer enxergar essas pessoas que costumam ser invisibilizadas. Então, tudo é feito de forma lúdica, respeitando o tempo e o espaço de cada um. O protagonismo é essencial, eles precisam se sentir pertencentes a esse lugar, que é deles por direito.
Você é uma das poucas mulheres mestras de bateria no país. Que caminhos percorreu para conquistar esse espaço?
Fui a primeira, e não foi fácil. Recebi muitos “nãos” e precisei provar que era sobre competência, não gênero. Fui desbravando mesmo para conquistar o meu espaço. Um ponto foi importante na minha trajetória: eu vinha da Imperatriz Dona Leopoldina com um destaque na época como coordenadora de tamborins. Ali, eu já me destacava na função, mas como mestra era uma novidade, um desafio. Fui buscar meu espaço iniciando em Caxias e, depois, em Porto Alegre.

Em 2012, tu representou o Brasil e o RS na Inglaterra, ensinando samba em uma escola de lá. O que mais te chamou atenção?
Eles nem sabiam que o Rio Grande do Sul existia! Achavam que Brasil era só Rio (de Janeiro), São Paulo e Bahia. Quando descobriram nosso “tempero”, ficaram encantados. Fui tratada como a artista que sou. A minha amiga Jane, do Reino Unido, fazia a tradução lá, mas a linguagem musical foi universal, onde pude desenvolver vários ritmos com gestos e sons com o corpo e a boca. Foi um dos melhores momentos da minha carreira que rendeu e rende frutos até hoje.
Pra ti, qual o papel do samba e do Carnaval como forma de resistência?
Eu sou uma prova viva do samba e do Carnaval que deu certo, sendo uma referência na minha comunidade, tendo uma formação acadêmica. Tudo que eu sou hoje eu devo ao samba, ao Carnaval e a grandes músicos. O Carnaval é necessário, gera emprego, forma pessoas, tem que ser pensado como empresa, como um centro cultural que forma cidadãos. Mas tem que ter investimento para que isso se torne possível.
Programação
Período: junho de 2025 a fevereiro de 2026
/// Consepro Vila Nova (Avenida João Salomoni, 1.105, Vila Nova)
Oficina de canto coral, com Costa Lima: quintas-feiras, às 14h
Oficina violão e guitarra, com Ana Bitello: sábados, às 9h30min
Oficina de percussão, com Jaqueline Santos e Jorge Antunes: sábados, às 10h30min
/// Cecores Restinga (Avenida Economista Nilo Wulff, s/nº, Restinga)
Oficina de percussão (cuíca), com Jorge Antunes: segundas-feiras, às 9h30min
/// Escola de Educação Infantil Casa da Criança Algodão Doce (Rua São Marcos, 150, Lomba do Pinheiro)
Oficina de flauta doce, com Fernanda Baracy: sextas-feiras, às 9h
Oficina de percussão, com Alexsandra Amaral: sextas-feiras, às 10h
Acompanhe o projeto nas redes sociais
Instagram: @umsopulsarpoars