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Direto da Redação

Ricardo Düren: "O bagual do chapelão"

Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano

25/06/2025 - 15h02min

Atualizada em: 25/06/2025 - 15h02min


Ricardo Düren
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Agência RBS/Agência RBS
Direto da Redação

Diz a minha mulher que ando ficando ranzinza. Tudo por conta de um show gaudério em que fomos dias atrás e onde, segundo ela, reclamei de tudo. Mas também… 

Eu estava entusiasmado com o show, de uma dupla nativista que muito admiro. Chegamos cedo e encontramos um lugar bueno no meio do povaréu. Dava para ver todo o palco. Mas foi só a gaita começar a roncar que apareceu na frente, do nada, um camarada que me cobriu toda a visão. Por si só, o bagual era um armário. Uns 1,90m de altura e quase 1m de ombros. Até aí, tudo bem. O problema era o chapelão dele, um aba larga que tampou o palco todo. 

Ali já comecei a resmungar. Comentei com a patroa que, conforme havia aprendido com meu saudoso pai, usar chapéu dentro de casa era falta de respeito — o que certamente também valia para salões fechados. Cogitei pedir ao vivente que ao menos tirasse o sombreiro, quem sabe até com uma trova bem campeira: 

Meu amigo e bom sujeito
Tenha mais educação
E por questão de respeito,
Tire logo o chapelão
Pra subir no meu conceito
E pra evitar confusão. 

Mas a patroa me desaconselhou: 

— Olha o tamanho do cara! 

O jeito foi nos reposicionarmos. Achamos um canto em que dava para ver o palco, mas o problema ali era o entrevero de gente caminhando de um lado a outro, indo e voltando da copa. Comentei que aquilo era um desrespeito com os músicos: 

— Ninguém prestando atenção na letra. Se querem caminhar, que procurem uma pista de corrida! 

Isso sem falar nos casais de dançadeiros, saracoteando sobre os pés da gente, as mãos erguidas quase nos acertando o rosto. E também reclamei dos dançadeiros: 

— É pra ser show, não fandango. 

Diz a minha mulher que pareço um “véio reclamão”. Acho que, depois de algum tempo, estou começando a cobrar de volta o respeito que sempre tive com os outros. Respeito é tudo. Respeito é, inclusive, a chave para a paz, tão em falta nesse mundo velho.


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