Porto Alegre
Rubem Berta ganha estúdio para gravações gratuitas de artistas locais na Casa do Hip Hop
Reformado com recursos de emenda parlamentar, espaço de cultura também oferece aulas e oficinas de inglês, taekwondo e percussão

Nas instalações de um antigo posto da Brigada Militar, no bairro Rubem Berta, o hip-hop semeia cultura e oportunidades para a garotada da Zona Norte. O Instituto Cultural Cohab É Só Rap organiza oficinas de inglês, grafite, taekwondo e percussão gratuitas, mobilizando cerca de cem pessoas, entre alunos, professores e apoiadores.
No último mês, a Casa do Hip Hop Rubem Berta ganhou ainda mais chances de fazer a diferença com a inauguração de um estúdio de gravações de áudio. Com equipamentos novos e um profissional à disposição, os artistas locais e iniciantes poderão gravar seu som de forma gratuita.
Para o principal organizador das atividades, Leandro Seré, conhecido como Tiry BFN, o estúdio é mais uma forma de atingir os objetivos da casa: fomentar a cultura e a inclusão social nas comunidades da periferia.
— O hip-hop não é só os quatro elementos (rap, grafite, o DJ e o breakdance), ou o conhecimento, como o quinto (elemento). É um movimento tão grande que cria oportunidades diversas na vida da gente. Nos tira da zona de conforto para colocar num lugar de objetivo — afirma Tiry, que desenvolve os trabalhos com auxílio de parceiros do hip-hop.
Procura já está alta
A construção e organização do estúdio foi financiada por uma emenda parlamentar do vereador Roberto Robaina (PSOL). Com cerca de R$ 30 mil, o grupo conseguiu instalar isolamento acústico, uma mesa de som, alto-falantes e um software de edição. Tudo tirado do plástico há uma semana, contam.
Além disso, o projeto também prevê um profissional de áudio trabalhando duas vezes por semana para ajudar na captação, mixagem e masterização das músicas. O produtor musical Maurício Silva, vulgo Bushido, diz que o equipamento está 100% e que a expectativa é de muito trabalho.
— Aqui na quebrada da Cohab, da Rubem Berta, tem muita gente querendo gravar. Que venham muitos artistas, principalmente pessoas que não têm muito acesso a gravações profissionais — deseja Bushido.
Segundo ele, as gravações profissionais são caras. Horários de estúdio custam em torno de R$ 300, o que os tornam praticamente inacessíveis para quem está começando. Apesar de o local ter nascido a partir da cultura hip-hop, as gravações vão estar disponíveis para todo artista da periferia. Seja o rap, o trap, o funk ou R&B.
Luta para conseguir o espaço
Contar a idade da Casa do Hip Hop é um desafio até para os integrantes do coletivo. São várias as datas que podem servir como marco inicial dos trabalhos. De acordo com Tiry, uma delas é a criação do festival A Cohab É Só Rap, organizado desde 2004 pelo grupo musical Banca Forte da Norte (BFN), do qual ele é um dos fundadores.
Porém, mesmo com a criação do evento, ainda faltava um local que pudesse ser a sede da organização. A partir de 2016, esse cenário mudou. Naquele ano, a Brigada Militar decidiu fechar o posto de polícia comunitária que funcionava na Rua Wolfram Metzler.

A gestão do terreno foi transferida, então, para a prefeitura da Capital, que não conseguiu dar conta. Por falta de zeladoria, houve episódios de vandalismo e consumo de drogas no terreno, até que o coletivo decidiu ocupar.
— Pegamos um espaço depredado, com cimento salpicado, sem janela, sem porta, sem banheiro, e começamos a revitalizar — lembra o coordenador da equipe.
Em 2023, após articulação por meio do orçamento participativo, o instituto conseguiu autorização do governo municipal para usar o espaço. Desde então, o grupo se esforça para oferecer mais oportunidades para a população da Cohab.
Oficinas e aulas
Para colocar em prática o objetivo de transformar a vida pela cultura, a Casa passou a oferecer outras atividades que vão além do hip-hop neste ano. São oficinas de taekwondo, percussão e inglês.

Na terça-feira, quando o DG visitou o espaço, o professor Edison Carvalho explicava this e that (este e aquele, em português) para seis crianças que desafiaram a chuva para aprender. Amigo de Tiry, ele foi convidado para oferecer aulas semanais do idioma de forma gratuita.
— Uma das frustrações da minha geração é não ter aprendido inglês. Aprender o idioma é uma porta de possibilidades que se abre — conta o professor.
Como participar
/// O contato para participar das oficinas, usar o estúdio ou propor oficinas é o perfil no Instagram.
*Produção: Guilherme Freling