Direto da Redação
Samuel Bizachi: "Os coveiros do futebol estão em festa com o VAR"
Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano

O VAR chegou para acabar com polêmicas de arbitragem no futebol. Ou, ao menos, reduzir drasticamente. Mas, em menos de 10 anos, enferrujou. Hoje, o aparelho é só um justiceiro cúmplice do erro.
Trago números. Considerando só jogos de Grêmio e Inter, entre abril e maio, houve ao menos 11 erros capitais não corrigidos com o VAR, conforme dados das colunas de Diori Vasconcelos, especialista em arbitragem. Busque os textos dele em GZH. Há enxurrada de títulos com termos como “pênalti constrangedor”, “erro inexplicável” e outros. Segundo meus cálculos, houve sete pênaltis no período (não marcados ou mal assinalados), uma expulsão ignorada e dois gols mal anulados.
Mas minha bronca nem é com erros, e sim com o fato de o VAR tornar o futebol um jogo insuportável. Quando criança, aprendi com meu pai no estádio que, quando houvesse gol, bastava olhar para o bandeirinha. “Correu ao meio do campo? Gol!”, ensinou. Parece inacreditavelmente simples, mas assim foi o futebol de 1800 e pouco a 2018. As pessoas viam um gol e sabiam se era gol.
Mataram a emoção
Hoje, não. Ninguém mais tem certeza. Porque sempre tem aquela mão cretina no ouvido do árbitro. O VAR procura um encostão aqui, um fio de cabelo puxado um minuto antes lá — tudo é possível.
Pior: no Brasil não há tecnologia que determine se a bola entrou ou não no gol. Se a mão foi dentro ou fora da área. Juízes interpretam choques em câmera lenta, ignorando a dinâmica do jogo, mas não têm ferramenta que diga se a bola ultrapassou um risco no campo. Outra piada são as linhas de impedimento “manuais” do VAR. Qualquer um com mero conhecimento de edição de vídeo sabe que alguns frames pra frente ou pra trás colocam ou tiram um jogador do impedimento.
No fim das contas, se o VAR não cumpre o básico, é só mais um problema. De lambuja, mataram a maior emoção em campo.
Os coveiros do futebol nunca festejaram tanto. Que nosso querido esporte descanse em paz.