Problema recorrente
Cada vez mais comuns em Porto Alegre, patinetes são alvo de vândalos: "Já jogaram mais de 30 no Dilúvio"
Capital conta com 2,4 mil equipamentos operados por duas empresas. Prefeitura trabalha em nova legislação, com regras mais claras sobre o uso


As patinetes elétricas estão cada vez mais presentes nas ruas de Porto Alegre. Desde 2023, a Capital ganhou quase 2,4 mil veículos do tipo, operados por duas empresas de fora do país. Enquanto a demanda de usuários, para transporte e lazer, cresce, esses equipamentos também tornaram-se alvo de vândalos.
A Jet Brasil, uma das empresas que disponibiliza as patinetes elétricas em Porto Alegre, já teve equipamentos jogados no Arroio Dilúvio e no espelho d'água do Parque Farroupilha (Redenção).
— Já jogaram mais de 30 no Dilúvio e cinco no espelho d'água da Redenção. Teve uma época que buscávamos uma patinete por semana. Chegamos a comprar um equipamento com gancho para resgatá-las — conta o gerente da operação da Jet no Rio Grande do Sul, Valter Schereder.
Após o resgate, os equipamentos passam por reparos e voltam a rodar. A Whoosh, outra empresa que opera na Capital, mesmo sem apresentar dados, diz que também já sofreu com patinetes jogadas na água.
— O vandalismo costuma acontecer mais no começo da operação. As pessoas não sabem se tem segurança ou acompanhamento. Já jogaram na água em Porto Alegre, assim como no Rio de Janeiro jogaram dentro do mar. Isso acontece, mas nós recuperamos, levamos para a manutenção, desmontamos e fica zero de novo — diz o diretor de operações da empresa no Brasil, José Ricardo Souza.
A Whoosh diz que, desde que opera em Porto Alegre, há cerca de dois anos, perdeu três patinetes (que não puderam ser recuperados).
Para a Jet, cada equipamento custa, em média, R$ 10,5 mil. O preço varia de acordo com a cotação do dólar, já que o produto é importado. A Whoosh não divulga valores.
Os equipamentos contam com rastreamento, para evitar furtos.
Problema recorrente
Segundo o coordenador de Planejamento da Secretaria de Mobilidade Urbana (SMMU), João Paulo Cardoso Joaquim, atos de vandalismo também acontecem com as bicicletas compartilhadas da TemBici.
— É um problema de educação. Pessoal tenta roubar. Sabemos de casos da Whoosh em que levaram uma patinete para o Vale do Taquari, mas resgataram devido ao sistema de GPS — diz Joaquim.

Ainda antes da pandemia, as empresas Grin e FlipOn retiraram suas patinetes de Porto Alegre, após um curto tempo operando na Capital. No mesmo período, a Yellow, que também fornecia bicicletas, deixou a cidade devido a atos de vandalismo contra os equipamentos.
Em 2021, a Adventure tentou novamente emplacar as patinetes elétricas em Porto Alegre, utilizando, inclusive, os equipamentos que eram da FlipOn. Porém, o serviço durou pouco.
Nova proposta, mais usuários
Hoje, Porto Alegre conta com 2.366 patinetes elétricas. A Whoosh, identificada pela cor amarela, opera desde outubro de 2023; já a Jet, de cor azul, está na cidade desde abril de 2024. As marcas que ofereciam os veículos anteriormente disponibilizavam apenas cerca de 300 equipamentos, que eram menos robustos.
Esse número maior de patinetes na cidade é reflexo de uma demanda crescente pelo serviço, dizem as empresas que operam em Porto Alegre. Os locais com maior circulação são o Centro Histórico e os entornos de universidades.
A Whoosh diz que suas patinetes já fizeram mais de 1,5 milhão de viagens na Capital e que 65% do público é formado por jovens assinantes mensais, ou seja, pessoas que usam o meio de transporte com frequência.
Um desses casos é o do técnico em informática Felipe Rodrigues, 25 anos, que diariamente pega uma patinete no trecho 1 da Orla para se deslocar ao prédio da Federação Gaúcha de Futebol (FGF), onde trabalha. No final da tarde, faz o mesmo para voltar ao Centro Histórico, onde mora.
— Acho muito prático e mais barato do que pegar um Uber, por exemplo. Também é melhor do que ficar esperando ônibus — diz Felipe.
Por outro lado, as patinetes da Jet ainda são mais usadas para lazer. Cerca de 75% dos usuários ainda utilizam os equipamentos apenas para este fim, na maioria dos casos em parques e praças.
Nesta quarta-feira (16), uma família de Curitiba (PR) alugou patinetes da Jet pela primeira vez para chegar a outro ponto da orla do Guaíba.
— Nunca andei, vou ver agora como é. Precisamos chegar rápido onde nossos parentes estão esperando — diz Osvaldir Ferreira Pinto, que está visitando Porto Alegre com a esposa e as filhas.

Queixas e fiscalização
O aumento de circulação das patinetes também é motivo de queixas de pedestres e motoristas. Alta velocidade e uso de pistas para carros estão entre as principais reclamações ouvidas pela reportagem de Zero Hora.
A Secretaria de Mobilidade Urbana diz que impôs um limite de 20 km/h em ruas da cidade e 10 km/h em orlas e parques. Roberto Jakubaszko, prefeito do Parque Farroupilha, diz que esse limite não é respeitado.
— Há excesso de velocidade desses veículos dentro do parque. É uma área de lazer. Às vezes duas pessoas usando a mesma patinete, quando vê atropelam alguém... Falta fiscalização por parte das empresas — reclama.

Segundo a Empresa Pública e Transporte e Circulação (EPTC), foram registrados 24 acidentes de trânsito envolvendo patinetes elétricas até junho de 2025. Em 2024, foram 16 registros (sendo um deles com morte); e em 2023, foram quatro.
A prefeitura de Porto Alegre diz que levará à Câmara de Vereadores uma atualização do atual regramento das patinetes na Capital. A nova regulamentação deve prever uso individual das patinetes, limitação para maiores de idade, limite de velocidade e realização de campanhas de educação por parte das operadoras. Uso de capacetes não deve entrar na proposta.
— As empresas já cumprem essas orientações. O que nossos agentes fazem hoje é uma abordagem educativa. Apesar de não ser obrigatório, recomendamos que se use capacete — diz o coordenador de Planejamento da Secretaria de Mobilidade Urbana.
— Recomendamos que ande (de patinete) onde tiver ciclovia. Como não temos uma cobertura cicloviária suficiente, a patinete vai acabar utilizando o passeio com uma velocidade compatível com a do pedestre. Não recomendamos que a patinete faça uso da faixa com o automóvel. É muito arriscado — completa.
Como usar
Para alugar as patinetes elétricas em Porto Alegre, o usuário precisa baixar o aplicativo da Whoosh ou da Jet, disponível nas plataformas Android e IOS. Em seguida, deve fazer um cadastro com dados pessoais e de pagamento. Os aparelhos ficam espalhados por pontos fixos na cidade, onde depois devem ser devolvidos.
As tarifas são dinâmicas, assim como Uber e 99. Na Whoosh, a taxa de desbloqueio da patinete é de R$ 2. Depois, é cobrado um valor entre R$ 0,39 e R$ 0,89 por minuto, a depender do horário e da demanda pelos equipamentos. Já as patinetes da Jet têm uma taxa de desbloqueio que varia de R$ 1 a R$ 3. Depois, é cobrado de R$ 0,25 a R$ 0,69 por minuto.