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Zona Leste

Conheça a horta comunitária do Morro da Cruz, em Porto Alegre

Projeto trabalha com conceitos de segurança alimentar, agroecologia e feminismo popular na Capital. Iniciativa nasceu na pandemia

17/07/2025 - 14h53min


André Malinoski
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Renan Mattos/Agencia RBS
Mulheres unidas por alimentos mais saudáveis.

Uma horta comunitária no Morro da Cruz acolhe as mulheres da região e fornece um prato quente de comida para pessoas em situação de insegurança alimentar. A iniciativa social envolve 25 integrantes da própria comunidade e ainda proporciona oficinas de produção de sabão ecológico, sal temperado e padaria.

Realizado no bairro São José, na zona leste de Porto Alegre, o trabalho voluntário atende 493 pessoas. Integra a iniciativa uma cozinha solidária, com padaria e uma sala de costura para a criação de itens como sacolas, toucas e aventais de pano reciclado. O artesanato é feito com carinho por amigas e vizinhas.

O projeto idealizado pelo Coletivo Periferia Feminista, que atua com os conceitos de segurança alimentar, agroecologia e feminismo popular — iniciativa da Marcha Mundial de Mulheres do Rio Grande do Sul —, surgiu durante a pandemia de covid. 

Na época, o espaço abandonado e em desuso, situado na Rua Nove de Junho, 1.671, foi ocupado e permanece dessa maneira desde então. A plantação foi planejada por voluntários, que serviam sopão para as pessoas da comunidade do Morro da Cruz.

— Com a chegada da enchente, construímos também o espaço da cozinha solidária. Começamos a atender a comunidade em geral, servindo as marmitas de almoço e janta para a população do Morro da Cruz e para alguns outros locais de Porto Alegre com pessoas em situação de rua — explica uma das coordenadoras da iniciativa, a voluntária Any Moraes, 38 anos.

Múltiplas culturas e acesso aberto

Com cerca de 60 metros quadrados, a horta urbana tem coleta de água da chuva e fossa ecológica – sistema que aplica processos naturais para tratar os detritos.

Entre as culturas plantadas, sem o uso de agrotóxicos, estão:

  • milho
  • tempero verde
  • cebolinha
  • flores comestíveis
  • ora-pro-nóbis
  • plantas medicinais
  • girassol
  • hortelã
  • menta
  • salsa
  • abóbora
  • banana
  • limão
  • açaí

E o conceito é aberto, ou seja, qualquer pessoa pode chegar e colher algo para levar para casa.

"Acolhimento diário"

A moradora do Morro da Cruz Andrea Rodrigues Trindade, 54 anos, é uma das guardiãs da horta. A voluntária mexe na terra e dedica-se ao cultivo com as colegas. Começou a participar durante a pandemia, quando o isolamento social a impediu de trabalhar em outros locais.

— Para mim, é muito satisfatório. Nós colhemos tanto para usar na cozinha como para fazer chás. E também participo da cozinha para dar força para as gurias — comenta. 

A também coordenadora Cintia Barenho, 43, menciona que o espaço físico não comporta uma plantação de maior escala:

— Os alimentos são consumidos entre nós. A gente não comercializa. O que estamos organizando é comercializar mudas. O espaço não é grande o suficiente para produzir alimentos que alimentem um grupo considerável de pessoas.

Segundo Cintia, o local acaba servindo para outras atividades de integração para as mulheres da região. 

— Idealizamos um espaço comunitário, de encontro, de reunião e de acolhimento diário. Todos os dias estamos aqui, ou servindo as refeições, ou organizando o plantio, a colheita, ou fazendo trabalhos na padaria, ou na costuraria — enumera.

A cozinha solidária conta com fogão profissional e geladeira. Na padaria, há diversos utensílios de preparo de alimentos, forno e uma grande coifa. Na sala de costura, podem-se ver máquinas e computadores. Todos esses equipamentos foram obtidos por meio de editais e doações. 

Reconhecimentos

O projeto da horta comunitária do Morro da Cruz foi agraciado na 1ª edição do Prêmio Agricultura Urbana 2024, do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome do governo federal. A premiação reconhece iniciativas que promovem a alimentação saudável e a inclusão social e produtiva nas cidades. 

A ação recebeu ainda o Prêmio Periferia Viva 2024, do Ministério das Cidades, e uma menção honrosa do II Prêmio Fórum de Justiça de Direitos Humanos, também no ano passado.

— Todo dia, sempre passa alguém perguntando se tem um prato de comida para ser oferecido. A fome é uma realidade brutal e nos movimentou a manter esta cozinha aberta após o advento das enchentes. A gente não conseguiu recuar, porque havia a necessidade das pessoas se alimentarem neste espaço — conclui Cintia Barenho.

Apoiadores e parceiros de iniciativa

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) do governo federal colabora com entregas de alimentos para as marmitas. A Secretaria Municipal de Governança Cidadã e Desenvolvimento Rural implementou mais alguns canteiros no local, por meio do projeto de Hortas Comunitárias Agroflorestais.

A indicação do local partiu do Fórum da Agricultura Urbana e Periurbana de Porto Alegre (Faupoa). A Organização da Sociedade Civil (OSC) Espaços, Cidadania e Oportunidades Sociais (Ecos) auxiliou na criação da agrofloresta.

Por sua vez, a Faculdade de Agronomia e o Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) são parceiros na transformação da horta em um espaço de mudas.

Também há outra horta desenvolvida pelas integrantes da iniciativa, localizada nas dependências da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Morro da Cruz.

Como auxiliar

Quem quiser ajudar com alguma doação ou desejar adquirir produtos das costureiras pode entrar em contato pelo telefone (51) 99743-7964.

O que diz a prefeitura

A reportagem de Zero Hora entrou em contato com a prefeitura da Capital para saber se o espaço ocupado pertence ao município. Conforme resposta do Executivo, nenhuma secretaria sinalizou a posse do terreno no Morro da Cruz.



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