Coluna da Maga
Magali Moraes: a boca do estômago
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho


Essa expressão é tão estranha quanto a dor repentina que a gente sente. Quando dói a boca do estômago, não dá pra manter o sorriso. É uma dor indefinida de algo que pesa e te tira do prumo. O desconforto vem do quê? Comemos argila, areia, cimento e concreto pra fabricar esse tijolo lá dentro? Se você ainda não localizou a boca do estômago, nem precisa GPS. Coloque sua mão na parte superior do abdômen, logo abaixo do osso esterno no meio do peito. Dor epigástrica que chama.
Mas por que boca do estômago? É que bem nessa região o esôfado (tubo que vem lá da garganta) desemboca no estômago. Pensando bem, faz sentido. Essa entrada funciona como uma boca pra receber os alimentos ingeridos. Na passagem, a turma lá dentro não se entende. Foi o que entendi pesquisando. Tive a tal dor semana passada, assim do nada, achando que era só um incômodo por estar sentada muito tempo. Até bolsa de água quente usei enquanto os remédios não faziam efeito.
Boldo
A boca do estômago, mesmo sendo uma boca, não tem um bom paladar. O que ela gosta é de canja sem graça, chá de boldo e sal de frutas (outro nome esquisito). No máximo, uma bolachinha de água e sal pura, do que também não se espera grande sabor. Enquanto o processo digestivo tenta fazer o seu trabalho, do lado de fora a gente tenta esquecer a dor. Difícil achar uma posição confortável. Na hora de dormir, o tijolo atrapalha, e reviramos na cama. O ânimo se vai, o rosto fica abatido.
Nosso organismo é um reloginho: o que sai do compasso afeta o conjunto. Ainda bem que tudo passa, a noite mal dormida logo se recupera, a melhora vem aos poucos. Coitada da boca do estômago, que só é lembrada em momentos ruins. Tem também a expressão “um soco no estômago”, que não é literal mas machuca os sentimentos. Uma notícia negativa pode dar um soco no estômago, e aí nem chá de boldo resolve. O ponto em comum nessas duas expressões é o mal-estar que dá.