Comoção. Não há palavra melhor para definir o fenômeno que acomete um país inteiro quando um artista querido morre. Pensei muito nisso desde a partida de Preta Gil, no domingo. A notícia me deixou com o coração pesado. Senti como se eu tivesse perdido uma amiga próxima. Confesso que chorei. Chorei por alguém que nunca conheci pessoalmente, e que não fazia ideia da minha existência. 

A primeira vez que sofri por alguém famoso foi em 1996. Ainda criança, solucei nos braços de minha mãe por conta da morte dos Mamonas Assassinas. Assim como milhares de jovens pelo Brasil, eu era fã do grupo, mesmo sem entender direito o teor malicioso das músicas que cantava nas festinhas. 

Já adulta e trabalhando como jornalista na área de entretenimento, descobri que escrever sobre ídolos que partiam era ainda mais doloroso do que apenas acompanhar as manchetes. O primeiro obituário que fiz foi o de Domingos Montagner (1962-2016). Enquanto digitava, as lágrimas molhavam o teclado do computador. Depois desse, vieram muitos outros, mas a morte de um protagonista no meio da novela, no mesmo Rio São Francisco que servia de cenário para a trama, me tocou profundamente. 

Luto coletivo

O luto coletivo transcende os limites entre o público e o privado. É quase como se dividíssemos com a família e os amigos próximos daquele artista a dor da perda, potencializada quando se trata de alguém jovem, e mais forte ainda se as circunstâncias forem trágicas. Foi assim com Paulo Gustavo (1978-2021) e com Marília Mendonça (1995-2021), entre outros. 

Talvez as mortes célebres nos façam lembrar de nossas perdas individuais, da ausência dos entes queridos que já nos deixaram. É como se soltássemos do fundo do peito a saudade acumulada. A comoção pode ser nacional, mas a dor é de cada um, e só nós sabemos por que ou por quem estamos vertendo nossas lágrimas.