Suspeitos presos
O que se sabe sobre mortes de bebê, mãe da criança e adolescente em Esteio
Polícia teve acesso a imagens de câmeras que auxiliam a entender a dinâmica do crime


A investigação dos assassinatos de um bebê, da mãe da criança e de um adolescente em Esteio, na Região Metropolitana, avançou mais um passo. A polícia teve acesso a imagens de câmeras que auxiliam a entender a dinâmica do crime.
Os corpos de Kauany Martins Kosmalski, 18 anos, do filho dela, Miguel Martins Kosmalski, dois meses, e de um amigo da jovem, Ariel Silva da Rosa, 16 anos, foram encontrados na última terça-feira (22), em uma espécie de bueiro às margens do Rio dos Sinos. De acordo com a Polícia Civil, Kauany e Ariel foram mortos a facadas. A causa da morte do bebê ainda não foi confirmada.
Um dos suspeitos dos crimes é o líder religioso Jocemar Antunes de Almeida, 46 anos, que seria o pai do bebê, segundo a polícia. A esposa dele, Belisia de Fátima da Silva, 41 anos, e dois adolescentes, de 15 e 17 anos, também são investigados.
O que mostram as imagens
Segundo a delegada Marcela Smolenaars, responsável pelo caso, as imagens às quais a polícia teve acesso mostram a chegada do veículo de Jocemar no local do crime, por volta de 22h40min de domingo (20). Às 23h06min, aparece um segundo carro, do qual saem outras três pessoas, com aparência física similar à de Belisia e a dos dois adolescentes de 15 e 17 anos.
Ainda conforme as imagens, a mulher vai a pé até o primeiro veículo, enquanto os outros dois indivíduos ficam cuidando a rua. Oito minutos depois, o carro de Jocemar sai do local e se dirige ao ponto onde os corpos foram encontrados pela polícia. No local, o veículo fica por cerca de 20 minutos e, após, sai.
De acordo com a delegada, as imagens ajudam a confirmar o que Belisia relatou à polícia.
— O depoimento dela bate também com o chinelo da Kauany que foi apreendido no local do crime, bate com o que ela comentou de ter matado a Kauany e o Jocemar ter matado o Ariel, bate com os horários das filmagens — afirma, com a ressalva de que novos elementos podem surgir contrapondo algo.
Belisia se apresentou à polícia para confessar o crime após a suspeita de envolvimento do marido nas mortes gerar revolta na comunidade onde vivia o casal, em Esteio. Um princípio de incêndio foi registrado na casa deles.
Como foram localizados os corpos?
O caso começou a ser investigado pela polícia na terça-feira (22) após uma tia de Kauany registrar o desaparecimento da jovem e do bebê. No mesmo dia, cerca de oito horas depois, os corpos foram localizados.
De acordo com a investigação policial, Jocemar seria pai da criança, mas tentava esconder a paternidade. Kauany frequentava a casa de religião mantida por ele, no bairro Santo Inácio. A delegada Marcela diz ter recebido informação de representantes da umbanda de que, embora conhecido como pai de santo, Jocemar não tinha essa posição oficialmente.
Ainda conforme a polícia, o suspeito foi ouvido e apresentou inconsistências nas falas durante interrogatório. Ao ser confrontado com materiais coletados pelos policiais, confessou o crime e indicou aos investigadores onde estavam escondidos os corpos das vítimas.

Qual seria a motivação?
Da parte de Belisia, a polícia acredita que o crime tenha sido motivado por ciúmes, em razão de Kauany ter tido um relacionamento extraconjugal com Jocemar. Quanto ao homem, as motivações seriam o desejo de se afastar de Kauany e do bebê, assim como o temor de perder a posição de líder religioso na comunidade, caso o relacionamento fosse descoberto.
Segundo a delegada Marcela, Kauany vinha ameaçando contar que Miguel era filho de Jocemar:
— Ele (Jocemar) imaginava ser pai do bebê. Ele confessou isso para nós. Todo mundo imaginava ali naquela família. E as pessoas de fora não faziam ideia, ficaram chocadíssimas, o que comprova a tese de que, se aquilo vazasse, teria acabado com ele como líder religioso ali.
Quanto a Ariel, até o momento, a investigação aponta que ele foi morto por estar com Kauany naquele momento.
Como foi o crime?

A primeira versão sobre o crime foi apresentada por Jocemar na terça-feira (22). Conforme a polícia, ele relatou ter matado a jovem e o amigo dela sozinho. Os dois adolescentes suspeitos estariam no local.
Na versão de Belisia, Jocemar estava com Kauany, o bebê e Ariel, com o pretexto de beber vinho. Em outro veículo, Belisia teria chegado ao local, já com uma faca. Dentro do carro de Jocemar, haveria outra faca. Ali, conforme o que relatou à investigação, ela teria atacado Kauany, que foi morta primeiro. Após, Jocemar teria matado Ariel, também com golpes de faca.
Depois, os corpos teriam sido transportados dentro do carro de Jocemar até as proximidades do Rio dos Sinos, onde teriam sido depositados no bueiro. Segundo a delegada Marcela, a perícia encontrou vestígios de sangue no veículo do homem.
Quem está preso?
Jocemar foi preso em flagrante pela polícia na terça-feira (22). No dia seguinte, teve a prisão preventiva decretada pela Justiça.
Ainda na terça, os dois adolescentes suspeitos foram apreendidos em flagrante, suspeitos de auxiliar na ocultação dos corpos. Na quinta-feira, a Polícia Civil afirmou que o adolescente de 15 anos é suspeito de ser mentor dos crimes.
Belisia estava detida sob custódia em uma delegacia após confessar, em depoimento, envolvimento no crime. A mulher teve a prisão preventiva decretada pela Justiça na quinta-feira (24).
O que falta responder?

A delegada responsável pelo caso pontua que duas dúvidas ainda precisam ser respondidas:
— Como se deu a morte do bebê, que depende do laudo do IGP (Instituto-Geral de Perícias), e também se o Jocemar já tinha planejado matar a Kauany ou não, porque, se ele tiver planejado, de forma premeditada, junto com a esposa dele, aí temos um feminicídio. Se ele não planejou, se foi uma coisa impulsiva de parte da Belisia de pedir o carro de aplicativo com os menores e matar ela, sem ele saber, daí temos um homicídio, porque ele não teria esse dolo de matar a Kauany.
A polícia aguarda a extração dos dados telemáticos e telefônicos, assim como os laudos periciais e o resultado do exame de paternidade.
O que diz a defesa?
Na sexta-feira (25), os advogados Raquel Prates, Gustavo Nagelstein e Eduarda Brandolf, responsáveis pela defesa do casal Jocemar Antunes de Almeida e Belisia de Fátima da Silva, enviaram nota sobre o caso. Confira:
"A defesa ainda não teve acesso integral ao inquérito policial, o que é primordial para que possamos nos posicionar a cerca da linha defensiva que será traçada. No entanto, estamos desde o princípio certos de que, independentemente da gravidade e complexidade dos fatos imputados contra os acusados, não faremos juízo de valor e, sobretudo, trabalharemos com técnica jurídica para que a verdade seja apurada e, assim, para que o processo corra conforme prevê a legislação brasileira em acordo às garantias do código de processo penal. Assegurando, desde o princípio, a presunção de inocência até o trânsito em julgado."
Zero Hora voltou a entrar em contato com a defesa neste sábado (26) e mantém aberto o espaço, nesta reportagem, caso os advogados queiram atualizar o posicionamento.