"Africanas de Jornal"
Papel, tinta, cola e imaginação: artesã do Morro da Cruz transforma folhas de jornal em bonecas
Gisiele Pereira Bittencourt desenvolve as peças desde a pandemia. Entre as obras, há reproduções de Freud, Frida Kahlo e imagens de diferentes religiões

A auxiliar de serviços gerais Gisiele Pereira Bittencourt, 34 anos, tem ganhado destaque na comunidade do Morro da Cruz, na zona leste de Porto Alegre. Nas horas vagas, a moradora da região vira artesã e transforma papel em artesanato sustentável.
A empreendedora criou as "Africanas de Jornal", bonecas com riquezas de detalhes e de temáticas variadas.
— É muito legal tu pegar uma folha de jornal e transformar em uma imagem. É muito mágico: só o papel, a tinta, a cola, as ideias e a imaginação. Minha cabeça é 24 horas por dia ideias do que pode ser feito — compartilha Gisiele, que vive há 25 anos no Morro da Cruz.
Na última terça-feira (15), as obras estavam expostas na sede da ONG Coletivo Autônomo Morro da Cruz. Entre as peças, havia reproduções de imagens religiosas tanto do catolicismo, como Nossa Senhora Aparecida e São Francisco de Assis, quanto de religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda. Eram os casos de Oxumaré e Oxum.
Outros personagens, como o pai da psicanálise, Sigmund Freud, e até torcedores da dupla Gre-Nal dividiam a mesma estante. E a pintora mexicana Frida Kahlo já foi produzida em outras ocasiões.
O mais legal é quando uma pessoa me desafia a fazer uma coisa. Onde eu trabalho, me desafiaram a fazer o Freud e, desde então, fiz muitos e vendi. Isso é legal: o desafio do que você consegue fazer a partir do jornal ou do papel de uma revista.
GISIELE PEREIRA BITTENCOURT
Artesã e moradora do Morro da Cruz
Vídeo em rede social inspirou artesã
Conforme a artesã, que aprendeu a criar as peças após assistir ao vídeo de um artista fazendo bonecas semelhantes no Facebook, as primeiras foram produzidas durante a pandemia, ainda em 2020.
Na época, Gisiele estava grávida e podia ficar mais tempo em casa. Transformar jornal, além de papel kraft e crepom, em bonecas, serviu como terapia e passatempo para a agora empreendedora, que tem ajuda do marido para preparar o formato das peças.
Orgulho da comunidade
A vice-presidente da ONG Coletivo Autônomo Morro da Cruz, Nira Martins Pereira, contextualiza sobre o início da produção da moradora.
— A Gisiele é uma jovem que tinha o sonho de ser artesã, fazia alguma coisa em jornal, mas não tinha identificado ainda o que era. Então, em 2020, durante a pandemia, ela precisou de materiais, e o Coletivo auxiliou. Ela começou a desenvolver as bonecas — relata Nira.
Para obter os jornais, a artesã pede o material para os mercados da região e para o próprio Coletivo. As peças criadas têm preços que variam de R$ 7,00 a R$ 75,00.
— Ela explora mais a temática das namoradeiras. A primeira imagem que ela fez foi a Mãe Obá (divindade feminina do Candomblé e da Umbanda). Como ela não era ligada em religião, mostraram para ela, que fez uma igual — conta a dirigente da ONG, concluindo:
— Para nós, mulheres, ela é uma pequena grande empreendedora. Só o fato de ela ter a visão, a habilidade e o carisma de fazer as peças com tanta qualidade e amor é muito gratificante para todos nós, tanto do Coletivo, quanto da comunidade, principalmente porque é autossustentável.

Saiba como adquirir as peças
Quem se interessar pelas peças das "Africanas de Jornal" pode entrar em contato com a artesã pelo telefone (51) 98151-2013 ou acessar o trabalho nas redes sociais aqui.