Comida cara
Porto Alegre tem a maior inflação de alimentos para consumo em casa entre as capitais no primeiro semestre, aponta o IBGE
Preços na Capital ficaram acima do índice geral medido no país nos primeiros seis meses do ano. Itens como tomate, café e ovos ficaram entre aqueles com maior elevação


Nos primeiros seis meses de 2025, o conjunto de alimentos para consumo no domicílio ficou 5,01% mais caro em Porto Alegre e na sua Região Metropolitana. O valor é superior à média nacional para a categoria, que cresceu 3,64% no mesmo período, e também ao índice geral da inflação no país neste ano, que soma 2,99%.
Entre as capitais, a gaúcha foi a que apresentou a maior variação positiva no primeiro semestre nesta categoria. Os dados são do IPCA, índice do IBGE que mede a inflação no Brasil. Após Porto Alegre, vêm Salvador (4,92%), Belém (4,79%) e Vitória (4,68%). Entre as cidades que fazem parte da pesquisa, o Rio de Janeiro teve a alta menos elevada no preço dos alimentos a domicílio, com 2,43%, seguido por Belo Horizonte, com 3,16%.
— A inflação no preço dos alimentos é influenciada por uma série de fatores, internos e externos, como a variação cambial, as atividades de exportação, os movimentos dos mercados internacionais e, também, cada vez mais por eventos climáticos, que impactam as produções. Além de seguidos anos de estiagem, o Rio Grande do Sul foi fortemente afetado pela enchente do ano passado, e o impacto nas produções locais, que ainda ocorre, também reflete na menor oferta de alguns itens e pode contribuir para o aumento dos preços, em adição a esses outros fatores macroeconômicos — explica o economista Flávio Fligenspan.
Tomate, café e ovos
Os dois itens que apresentaram as maiores variações positivas no preço neste primeiro semestre na Região Metropolitana da Capital foram alimentos bem comuns na mesa da população. O primeiro foi o tomate, com elevação de 65,94%.
Somente em junho, o crescimento foi de 9,75% na Grande Porto Alegre. Na média nacional, o preço do fruto cresceu 56,06% no acumulado do ano, e 3,25% no último mês.
— O tomate é uma cultura muito sensível às condições climáticas, então seu preço costuma flutuar de forma volátil. Quando está muito quente, a colheita é antecipada e aumenta a oferta em um primeiro momento, mas em seguida a oferta diminui e o preço volta a subir. Foi o que aconteceu nos primeiros meses desse ano — destaca Lisiane Fonseca da Silva, economista e professora da Universidade Feevale.
Já o segundo item que teve maior variação no preço em 2025 foi o café moído, com 56,84% na Grande Porto Alegre e 42,90% na média nacional. O preço do café já vem em alta há mais tempo, mas aos poucos começa a apresentar sinais de desaceleração. No acumulado dos últimos 12 meses, o crescimento foi de 94,09% na Capital, mas, nos últimos três meses, o aumento foi de 7,35% em abril, 3,20% em maio e 0,82% em junho.
— O café também é impactado por questões climáticas, mas como é uma commodity, seu preço também é definido a partir de fatores externos, como a queda na produção do Vietnã, que é um dos grandes produtores globais, o que aumentou a demanda internacional. Como o Brasil é um grande produtor e exportador global, e também pela disparidade do valor entre real e dólar, as exportações de café por parte do Brasil também acabaram estimuladas — complementa a economista.

Outro alimento popular que teve seu preço muito comentado neste ano foi o ovo de galinha, que no acumulado de 2025 soma 24,95% de aumento em Porto Alegre e 16,63% no Brasil. O pico da alta do ovo ocorreu entre fevereiro e março, quando o preço cresceu 22,61% e 11,37% na Capital, mas em abril o aumento foi de apenas 1,30%, que foi seguido de quedas de 3,65% em maio e 6,66% em junho.
— O preço do ovo começou a subir em janeiro e foi agravado pela crise da influenza aviária nos Estados Unidos, que diminuiu a oferta do produto no mercado, além de outros fatores mais regionalizados. Mas nos últimos meses o preço vem se estabilizando — afirma o economista José Antônio de Moura, especializado em políticas públicas e em economia monetária.
— O movimento de alta e queda foi experimentado por grandes áreas de abrangência, com uma maior oferta de alguns itens, levando à queda de preços, ao passo que outros, como o café, reflete a redução na oferta do produto em larga escala, fato que também ocorreu com o ovo de galinha nos meses iniciais do ano — observa, em complemento, Fernando Gonçalves, gerente nacional do IPCA no IBGE.

Preço da carne perde pressão nos últimos meses
Grupo que também sempre chama a atenção dos gaúchos, as carnes vêm registrando queda na variação de preço. Na Grande Porto Alegre, o acumulado dos últimos 12 meses registra aumento de 15,64%, mas as altas ao longo do primeiro semestre do ano somaram 2,93%. O mês de junho apresentou queda de 0,85%.
Na média nacional, a variação é similar. O movimento dos últimos 12 meses ainda registra elevação de 23,63%, mas o recorte somente do primeiro semestre deste ano já acumula queda, de 0,65%. Em junho, a baixa foi de mais 0,35%.
— A alta no preço da carne foi acentuada no ano passado, muito influenciada pela exportação brasileira, que bateu recorde em 2024 e acaba diminuindo a oferta no mercado interno. Essa atividade tem também o efeito de aumentar o preço do ovo, pois muitas pessoas acabam substituindo a proteína quando o preço da carne se eleva — reforça José Antônio de Moura.
Na Capital, entre os itens e cortes que registraram maior aumento no preço no primeiro semestre de 2025, o coxão de dentro teve crescimento de 8,90%; o contrafilé, 5,45%; a alcatra, 4,74%; e a picanha, 4,16%. Já o frango inteiro teve alta de 7,99%. A carne de porco teve crescimento de 3,79% no período.

Mais itens que tiveram aumento de preço
Outros itens fundamentais no cardápio também registraram crescimento no seu preço no primeiro semestre, como a cebola, que teve aumento de 26,46%. Em razão da alta do cacau, o preço do chocolate em barra cresceu 17,92%, e o do chocolate em pó 15,24%.
Entre as frutas, o maior aumento foi da manga, com 41,29%, e do morango, com 39,89%.
O preço da batata-inglesa teve crescimento de 6,20%; o do queijo, de 5,11%; e o do açúcar refinado, 4,09%.
O leite longa vida (3,59%), o pão francês (2,44%), a farinha de trigo (1,04%) e o macarrão (0,79%) tiveram elevação de preço mais moderada nos primeiros seis meses do ano.