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Comida cara

Porto Alegre tem a maior inflação de alimentos para consumo em casa entre as capitais no primeiro semestre, aponta o IBGE

Preços na Capital ficaram acima do índice geral medido no país nos primeiros seis meses do ano. Itens como tomate, café e ovos ficaram entre aqueles com maior elevação

23/07/2025 - 15h11min


Mathias Boni
Mathias Boni
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André Ávila/Agencia RBS
O tomate foi o alimento que apresentou a maior alta no período de janeiro a junho deste ano na Grande Porto Alegre.

Nos primeiros seis meses de 2025, o conjunto de alimentos para consumo no domicílio ficou 5,01% mais caro em Porto Alegre e na sua Região Metropolitana. O valor é superior à média nacional para a categoria, que cresceu 3,64% no mesmo período, e também ao índice geral da inflação no país neste ano, que soma 2,99%.

Entre as capitais, a gaúcha foi a que apresentou a maior variação positiva no primeiro semestre nesta categoria. Os dados são do IPCA, índice do IBGE que mede a inflação no Brasil. Após Porto Alegre, vêm Salvador (4,92%), Belém (4,79%) e Vitória (4,68%). Entre as cidades que fazem parte da pesquisa, o Rio de Janeiro teve a alta menos elevada no preço dos alimentos a domicílio, com 2,43%, seguido por Belo Horizonte, com 3,16%.

— A inflação no preço dos alimentos é influenciada por uma série de fatores, internos e externos, como a variação cambial, as atividades de exportação, os movimentos dos mercados internacionais e, também, cada vez mais por eventos climáticos, que impactam as produções. Além de seguidos anos de estiagem, o Rio Grande do Sul foi fortemente afetado pela enchente do ano passado, e o impacto nas produções locais, que ainda ocorre, também reflete na menor oferta de alguns itens e pode contribuir para o aumento dos preços, em adição a esses outros fatores macroeconômicos — explica o economista Flávio Fligenspan.

Tomate, café e ovos

Os dois itens que apresentaram as maiores variações positivas no preço neste primeiro semestre na Região Metropolitana da Capital foram alimentos bem comuns na mesa da população. O primeiro foi o tomate, com elevação de 65,94%

Somente em junho, o crescimento foi de 9,75% na Grande Porto Alegre. Na média nacional, o preço do fruto cresceu 56,06% no acumulado do ano, e 3,25% no último mês.

— O tomate é uma cultura muito sensível às condições climáticas, então seu preço costuma flutuar de forma volátil. Quando está muito quente, a colheita é antecipada e aumenta a oferta em um primeiro momento, mas em seguida a oferta diminui e o preço volta a subir. Foi o que aconteceu nos primeiros meses desse ano — destaca Lisiane Fonseca da Silva, economista e professora da Universidade Feevale.

Já o segundo item que teve maior variação no preço em 2025 foi o café moído, com 56,84% na Grande Porto Alegre e 42,90% na média nacional. O preço do café já vem em alta há mais tempo, mas aos poucos começa a apresentar sinais de desaceleração. No acumulado dos últimos 12 meses, o crescimento foi de 94,09% na Capital, mas, nos últimos três meses, o aumento foi de 7,35% em abril, 3,20% em maio e 0,82% em junho. 

— O café também é impactado por questões climáticas, mas como é uma commodity, seu preço também é definido a partir de fatores externos, como a queda na produção do Vietnã, que é um dos grandes produtores globais, o que aumentou a demanda internacional. Como o Brasil é um grande produtor e exportador global, e também pela disparidade do valor entre real e dólar, as exportações de café por parte do Brasil também acabaram estimuladas — complementa a economista.

Ulisses Castro/Agencia RBS
Em alta há mais tempo, café subiu 56,84% em Porto Alegre e região.

Outro alimento popular que teve seu preço muito comentado neste ano foi o ovo de galinha, que no acumulado de 2025 soma 24,95% de aumento em Porto Alegre e 16,63% no Brasil. O pico da alta do ovo ocorreu entre fevereiro e março, quando o preço cresceu 22,61% e 11,37% na Capital, mas em abril o aumento foi de apenas 1,30%, que foi seguido de quedas de 3,65% em maio e 6,66% em junho.

— O preço do ovo começou a subir em janeiro e foi agravado pela crise da influenza aviária nos Estados Unidos, que diminuiu a oferta do produto no mercado, além de outros fatores mais regionalizados. Mas nos últimos meses o preço vem se estabilizando — afirma o economista José Antônio de Moura, especializado em políticas públicas e em economia monetária.

— O movimento de alta e queda foi experimentado por grandes áreas de abrangência, com uma maior oferta de alguns itens, levando à queda de preços, ao passo que outros, como o café, reflete a redução na oferta do produto em larga escala, fato que também ocorreu com o ovo de galinha nos meses iniciais do ano — observa, em complemento, Fernando Gonçalves, gerente nacional do IPCA no IBGE.

Kathlyn Moreira/Agência RBS
Pico da alta dos ovos foi registrado entre fevereiro e março.

Preço da carne perde pressão nos últimos meses

Grupo que também sempre chama a atenção dos gaúchos, as carnes vêm registrando queda na variação de preço. Na Grande Porto Alegre, o acumulado dos últimos 12 meses registra aumento de 15,64%, mas as altas ao longo do primeiro semestre do ano somaram 2,93%. O mês de junho apresentou queda de 0,85%.

Na média nacional, a variação é similar. O movimento dos últimos 12 meses ainda registra elevação de 23,63%, mas o recorte somente do primeiro semestre deste ano já acumula queda, de 0,65%. Em junho, a baixa foi de mais 0,35%.

— A alta no preço da carne foi acentuada no ano passado, muito influenciada pela exportação brasileira, que bateu recorde em 2024 e acaba diminuindo a oferta no mercado interno. Essa atividade tem também o efeito de aumentar o preço do ovo, pois muitas pessoas acabam substituindo a proteína quando o preço da carne se eleva — reforça José Antônio de Moura.

Na Capital, entre os itens e cortes que registraram maior aumento no preço no primeiro semestre de 2025, o coxão de dentro teve crescimento de 8,90%; o contrafilé, 5,45%; a alcatra, 4,74%; e a picanha, 4,16%. Já o frango inteiro teve alta de 7,99%. A carne de porco teve crescimento de 3,79% no período.  

Neimar De Cesero/Agencia RBS
Depois de ficar mais cara em 2024, carne tem alta moderada neste ano.

Mais itens que tiveram aumento de preço

Outros itens fundamentais no cardápio também registraram crescimento no seu preço no primeiro semestre, como a cebola, que teve aumento de 26,46%. Em razão da alta do cacau, o preço do chocolate em barra cresceu 17,92%, e o do chocolate em pó 15,24%. 

Entre as frutas, o maior aumento foi da manga, com 41,29%, e do morango, com 39,89%.

O preço da batata-inglesa teve crescimento de 6,20%; o do queijo, de 5,11%; e o do açúcar refinado, 4,09%.

O leite longa vida (3,59%), o pão francês (2,44%), a farinha de trigo (1,04%) e o macarrão (0,79%) tiveram elevação de preço mais moderada nos primeiros seis meses do ano.



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