EDUCAÇÃO
Rumos Mais Pretos: projeto incentiva a inserção de profissionais negros no mercado de trabalho publicitário
Iniciativa pensada por professora da UFRGS disponibiliza capacitações e vagas de estágio para estudantes que estão em busca de oportunidades

As ações afirmativas para ingresso no Ensino Superior no Brasil foram criadas com o objetivo de garantir o acesso de estudantes que, devido às desigualdades sociais, possuem mais dificuldades para chegar à graduação.
Diversas instituições, públicas ou privadas, fomentam programas e iniciativas para que seja possível alcançar o tão sonhado diploma. Mas como se manter em um espaço em que não se vê rostos semelhantes ao seu? É com esse propósito que surge o Rumos Mais Pretos.
Idealizado em 2021 pela professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Elisa Reinhardt Piedras, 45 anos, o projeto foi criado para conectar organizações e agências da comunicação com estudantes que estão em busca de emprego.
Com a parceria da agência de publicidade DZ Estúdio, a iniciativa também conta com conteúdos sobre diversidade e inclusão para os participantes.
O sentimento da professora era de que faltava um preparo aos estudantes para o ingresso no ambiente do mercado de trabalho.
— Nós temos as ações afirmativas na universidade, e o Rumos Mais Pretos nasce a partir disso. Eu tive o privilégio de dar aula para estudantes diversos, e via que havia essas políticas de ingresso e permanência, que são essenciais, mas não necessariamente essa continuidade para o ingresso no mundo do trabalho — explica.
Para ela, o projeto nasce como uma forma de dar sequência às ações afirmativas que a instituição já adotava:
— Eu sentia, como professora, essa lacuna que nós deixávamos em não acompanhar esse estudante para além de se graduar, como alguma continuidade dessas políticas que a gente tem na universidade.
Em 2021, o Rumos Mais Pretos começou no formato online, com as capacitações de modo remoto. Neste ano, também foram ofertadas cinco vagas de estágios pela DZ Estúdio. Cerca de cem pessoas participaram do projeto no primeiro ano.
Com o sucesso, a iniciativa continuou, estipulando um prazo de dois anos para cada edição. Em 2023, o objetivo era ampliar o impacto do Rumos Mais Pretos. Assim, ao reunir mais parceiros e divulgar para outras organizações, como o Grupo de Profissionais Negros na Indústria Criativa (GPNIC), ao todo 17 agências passaram a apoiar o projeto, gerando 32 vagas de estágio.
Na segunda edição, 150 pessoas participaram da iniciativa, que também ocorreu de forma remota.
Formações e dicas de profissionais
Neste ano, ocorre um marco no projeto: todos os profissionais que ministraram as capacitações são pessoas negras. Os assuntos abordados foram pensados a partir de conversas com as empresas parceiras e o entendimento de formações necessárias para os profissionais da área da comunicação.
As oficinas ocorreram durante cinco dias, de 14 a 18 de julho, no auditório da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS.
Jefferson Coelho e Jéssica Machado foram os mestres – como os convidados para palestrar são chamados – que lideraram a oficina sobre “Conexões”, que ocorreu no dia 16 de julho. O intuito dessa capacitação era trazer conceitos sobre o que é mídia e as formas como se relacionar com os clientes em diferentes situações, além de mostrar algumas dicas pessoais e profissionais para o mercado de trabalho.
Formado em Relações Públicas pela UFRGS, Jefferson enfatiza o sentimento de voltar para o lugar que o formou, agora, para falar sobre a área em que atua.
— Eu queria muito que esse projeto existisse quando eu estava estudando aqui. É uma emoção ver esses rostos pretos e curiosos —destaca.
Ele ainda ressalta o quão especial é poder participar do Rumos Mais Pretos:
— Isso me anima, porque o mercado de trabalho ainda é majoritariamente branco. Então, quando eu vejo que posso contribuir de alguma forma, é revigorante.
Para Jéssica, o sentimento é o mesmo. Na edição de 2023, a publicitária participou como ouvinte, representando a agência onde trabalha. Neste ano, o convite foi para ministrar capacitação.
— É muito legal conseguir compartilhar essa área para as pessoas, pois há poucos profissionais negros. Geralmente vou em eventos e sou só eu e mais uma pessoa negra — afirma.
Prática no mercado
Podem participar da próxima edição do Rumos Mais Pretos pessoas autodeclaradas pretas, pardas ou indígenas, estudantes das universidades parceiras (UFRGS, PUCRS, Unisinos, UniRitter, Faculdade São Francisco de Assis e Feevale) na área de comunicação e design.
Além de ter acesso aos workshops e capacitações disponibilizados, os alunos inscritos também participam de processos seletivos para vagas de estágio.
Agências de publicidade e organizações de Porto Alegre e Região Metropolitana também podem fazer parte da iniciativa indicando vagas de estágio na área da comunicação.
A estudante do quinto semestre de Publicidade e Propaganda, Gilsiane Moraes, 20 anos, acompanha o Rumos Mais Pretos desde a primeira aula e destaca a importância da iniciativa:
— A dinâmica está sendo muito boa, a forma como os palestrantes falam sobre os temas é muito bom porque temos uma noção de como é na prática, atuando no mercado.
Acompanhe o Rumos Mais Pretos:
/// No Instagram: @rumosmaispretos
/// Mais informações em: gzh.digital/4oe7H5d
*Produção: Ana Júlia Santos