Para além da mesa
Atleta de luta de braço precisa de apoio para competir em mundial na Bulgária
História do jovem de Gravataí é exemplo das dificuldades para se profissionalizar no esporte


Aos 18 anos, 90 quilos e 1,77 de altura, Luciano Vargas Baron é um fenômeno da luta de braço. Ganhou competições estaduais, nacionais e, em abril, se classificou para o 46º Campeonato Mundial do esporte na Bulgária.
Mesmo assim, ele se soma a uma extensa lista de lutadores que veem seus sonhos podados pela falta de recursos financeiros. Falta apoio para o atleta gravataiense bancar os custos da viagem à Europa, em setembro.
A dedicação ao esporte começou quando tinha 14 anos. Na época, ele entrou numa academia de musculação para perder peso. Lá, um dos treinadores da equipe de luta de braço Área 51 o convidou para ingressar nos treinos do esporte. Ele topou e na semana seguinte foi treinar. O primeiro encontro, lembra, quase o fez desistir:
— O pessoal era adulto, forte e treinava há muito tempo. Na primeira aula, passaram mais treino e pouca luta — relembra.
Nos treinamentos seguintes, foi se soltando e passou a tomar gosto pelo esporte.
A primeira vitória foi em 2022, quando disputou o campeonato estadual. A partir dali, passou a figurar em diversas competições. Mesmo quando perdia, tinha vontade de seguir:
— Eu não senti vontade de desistir. Algumas eu ganhava e em outras eu perdia, mas quis continuar tentando.
Conquistas
A insistência valeu a pena. Só no último ano foi campeão gaúcho, sendo o atual braço direito mais forte do Rio Grande do Sul; campeão brasileiro; ficou em segundo lugar no Panamericano, em Buenos Aires, e agora anseia pelo mundial.
Desde a classificação, em abril, já concedeu inúmeras entrevistas. Mesmo assim, sua ida está incerta e ele segue em busca de patrocinadores.
As muitas medalhas pesam no peito do jovem atleta, mas não bastam para pagar as contas. Enquanto não consegue transformar o amor em profissão, Luciano trabalha como barbeiro.

— Atualmente, (a luta) é muito mais que um hobby para mim, mas eu nunca tive nenhum retorno financeiro. É uma coisa que eu queria viver dela com certeza, mas por enquanto é impossível. Eu tenho que fazer outra coisa junto.
Ao mesmo tempo, o esporte exige dedicação. Para dar conta das competições, os treinos são diários e a dieta, equilibrada, com supervisão de uma nutricionista. Aos domingos, Luciano treina aspectos específicos da luta com a equipe Área 51:
— Chega um ponto que o cara cansa, né? Mas é o que eu gosto de fazer. É o que eu tenho prazer em fazer.
Sem incentivos, seguir é desafio
A luta de braço, ou queda de braço, ou ainda braço de ferro, é um esporte milenar. Os primeiros registros remontam ao Egito Antigo, segundo a World Armwrestling Federation, entidade internacional do esporte. Os praticantes da modalidade lutam para incluí-la entre os esportes olímpicos. Nas Olimpíadas do Rio, em 2016, participou como modalidade de exibição.

Os países que mais se destacam nas competições profissionais são do Leste Europeu e da Ásia Central, como Rússia, Geórgia e Cazaquistão. Nos demais, a prática segue majoritariamente amadora em bares ou recreios escolares.
Por aqui, a luta chegou por volta dos anos 1970, em centros urbanos como São Paulo e Campinas. Hoje, outros Estados como Mato Grosso do Sul, Paraná e Rio Grande do Sul também têm equipes fortes.
Aqui no RS, a Federação Gaúcha de Luta de Braço conta com 150 atletas. A maioria deles vem da Equipe Área 51, onde Luciano treina.
Para o presidente da federação, Élveres Rodrigues de Oliveira, 44 anos, essa condição é reflexo da falta de incentivos, principalmente financeiros.
— É muito mais difícil para a gente participar do campeonato por conta do custo. A luta tem pouco apoio financeiro e os atletas precisam pagar despesas do próprio bolso. Faltam políticas públicas que apoiem os atletas — avalia o presidente.
História repetida
Ex-atleta de Vacaria, Élveres vê na trajetória de Luciano uma repetição do seu passado. Por anos, conta, também conseguiu classificações para mundiais, mas precisou desistir por falta de dinheiro.
Agora, porém, vê um cenário mais otimista para a gurizada com o crescimento dos praticantes e o interesse de algumas empresas de suplementos alimentares em patrocinar os atletas.
— Por muitos anos, eu fui sozinho para os campeonatos. Eu sinto muito orgulho dessa gurizada que está vindo. Eles treinam muito, o próprio Thayan (Andrades, treinador na Área 51) consegue transmitir técnicas novas para eles, para que eles não passem por tudo que passamos — diz.
Patrocínio
Para apoiar o atleta, entre em contato pelo telefone: (51) 98330-8633.
*Produção: Guilherme Freling