Por trás do "mistério"
Como funcionam os botões para atravessar a rua? Conheça o sistema que "para o trânsito"
Após acionado, dispositivo deve interromper fluxo de veículos e permitir que quem circula pela rua ou avenida consiga atravessá-la


Apertar, aguardar o indicador verde e atravessar. Assim operam os botões de pedestres, que, após acionados, devem fechar a travessia dos veículos e permitir que os pedestres atravessem a rua ou avenida sem preocupação. A demora e o próprio funcionamento do sistema, porém, geram dúvidas e até mesmo desconfiança por parte dos pedestres. Afinal, será que os botões realmente funcionam?
Em Porto Alegre, segundo a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), há 784 sinaleiras com esse dispositivo, também chamado de botoeira.
Perguntas e respostas sobre os botões de pedestres
Zero Hora foi atrás das explicações da EPTC para desvendar esse "mistério" na Capital. Confira abaixo.
Os botões funcionam mesmo ou é só "efeito placebo"?
— Os botões funcionam — garante Vanderlei Trevisan, um dos responsáveis pela equipe de programação semafórica da cidade.
Ele explica que os processos operam em ciclos (veja o infográfico abaixo).
O tempo que o pedestre tem de esperar até o semáforo para a travessia ficar verde depende do momento em que o botão foi apertado. É possível comparar com um elevador que sai do térreo e vai até o 10º andar, por exemplo. Se a pessoa está no quinto andar, mas o elevador já passou desse nível, não irá voltar para buscá-la. O elevador seguirá até o 10º andar, descerá diretamente até o térreo e subirá novamente, reiniciando o ciclo. Neste novo ciclo, quando passar pelo quinto andar, a pessoa conseguirá entrar.
Isso explica porque, às vezes, o pedestre acaba tendo de esperar um tempo maior até poder atravessar a via.
Os semáforos têm ciclos que costumam variar entre 40 segundos e 130 segundos. Isso inclui o tempo em que ficam verdes para veículos e, se necessário, amarelos e vermelhos, assim como o tempo para o pedestre atravessar, caso o botão seja acionado.
Quando apertar o botão, o semáforo para veículos deve fechar no mesmo instante?
Não. Isso depende do momento do ciclo do semáforo em que o pedestre acionar o botão (veja o vídeo acima).
E por que não pode fechar no mesmo instante?
Para que a coordenação entre semáforos, como um todo, não seja prejudicada.
— Tem que coordenar tanto a abertura do pedestre quanto a abertura do carro para poder manter o sincronismo na via — reforça Vanderlei Trevisan, da EPTC.
Ele acrescenta que, em alguns casos específicos, a parada dos veículos se dá quase de forma instantânea, após o botão ser acionado. Mas isso ocorre apenas em lugares que exigem isso, como em frente a escolas, e não devem impactar tanto no trânsito.
Nos lugares onde há botão, o semáforo para pedestres só abre se alguém apertar o dispositivo?
Depende. Trevisan esclarece que, em alguns pontos e em determinados horários, a programação fica em modo automático.
É o caso, por exemplo, de alguma via em que, durante o dia, o fluxo de pedestres é tão constante que o semáforo para travessia pode ficar no modo automático. Mas, à noite, quando o movimento de pessoas na rua é menor, o semáforo para pedestres abrirá apenas se alguém de fato quiser atravessar a via e apertar o botão.
Na prática, como o pedestre não tem como saber a programação do semáforo, a dica é: se há botão, aperte.
Adianta apertar o botão várias vezes?

Não adianta, responde Trevisan.
— Na hora em que você apertou uma vez o botão, o controlador já recebeu a demanda. Vai acontecer. Independente se você apertar mil vezes, o controlador não registra que você apertou mil vezes — pontua.
O processo se assemelha ao feito para chamar um elevador: no momento em que alguém o aciona uma vez, não é mais necessário apertar o botão.
O tempo que o pedestre tem para atravessar muda conforme o horário do dia?
Não, porque o tempo de travessia é calculado com base na distância que pedestre tem de percorrer para atravessar a via.
O que pode mudar, de acordo com dias e horários, é o tempo que o pedestre tem de esperar para que o semáforo fique verde para a sua travessia.
Quanto tempo o pedestre tem para atravessar a via?
Alguns ciclos são maiores e outros menores a depender da via, do entorno e do tamanho da travessia do pedestre, por exemplo.
O Manual Brasileiro de Sinalização de Trânsito, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), recomenda que se considere a velocidade dos pedestres igual a 1,2 metro por segundo. Portanto, se a via tem 10 metros, o pedestre teria cerca de oito segundos para atravessá-la quando o semáforo para pedestres estiver verde.
Em Porto Alegre, conforme a EPTC, é utilizada como base a velocidade de um metro por segundo. Portanto, em 10 metros, o pedestre teria 10 segundos para atravessar a via. Isso pode mudar em locais que exigem um tempo maior, como em frente a hospitais.
E os botões estragados?
O funcionamento do sistema é comprometido por conta de atos de vandalismo e desgaste natural dos equipamentos, por conta de chuva, oxidação ou ferrugem, por exemplo.
— Às vezes, você chega e vê que o botão está afundado, quebrado, puxado para fora, mexido nos fios. Você consegue saber (que está estragado). Mas, às vezes, acontece o roubo da fiação que está entre um poste e outro. Está cheio de fios hoje na rua entre um poste e outro, e as nossas próprias equipes, às vezes, têm dificuldade em identificar onde está cortado — afirma Trevisan.
Segundo ele, o sistema não avisa a equipe quando um botão para de funcionar. Por isso, a EPTC orienta que os pedestres entrem em contato pelo 156 ou 118 para notificar o problema. O conserto costuma ser rápido, pontua Trevisan.
O que são as botoeiras sonoras?
São uma funcionalidade dos botões, voltada a pessoas com deficiência visual.
— Se você precisa de sinal sonoro, tem que apertar (o botão), segurar alguns segundos, para ativar o modo sonoro — explica Trevisan.
O dispositivo informa quando o semáforo está aberto para os pedestres.
Em Porto Alegre, conforme a EPTC, há 101 travessias com botoeiras sonoras.
Em outras cidades
Outras cidades pelo Brasil usam sistemas semelhantes. Confira:
Rio de Janeiro

Na capital fluminense, de acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro, a Zona Norte é a região com mais dispositivos.
A companhia explica que, assim que o botão é apertado, existe um tempo pré-programado para que o sinal fique verde para os pedestres, variando conforme cada local da cidade. Ao menos quatro travessias possuem botoeiras com avisos sonoros e luminosos, voltados a pessoas com deficiência.
São Paulo
Na capital paulista, conforme a Companhia de Engenharia de Tráfego de São Paulo, quando o botão é acionado, o equipamento ativa o estágio de tempo destinado à travessia de pedestres. Há casos, porém, em que o estágio de pedestres é programado, independentemente do acionamento da botoeira. Isso é definido com base, principalmente, no volume de pedestres.
A companhia ressalta, ainda, que o simples fato de apertar a botoeira não provoca a abertura imediata do semáforo para os pedestres e que, normalmente, esses dispositivos são instalados em semáforos próximos a escolas, hospitais e outros locais com grande demanda de travessia.
Há também botões que emitem sinais sonoros, visuais e táteis para auxiliar a travessia de pedestres com deficiência visual.
Curitiba
Em Curitiba, no Paraná, ao ser acionado, o botão informa a presença do pedestre e o semáforo só abrirá após concluir o ciclo dos veículos. Sem o acionamento, o sinal para pedestres pode não abrir, dependendo da programação. Na cidade, de acordo com a prefeitura, as botoeiras estão distribuídas em pontos com grande fluxo de pedestres e regiões com alguma necessidade específica, como aquelas próximas a escolas, hospitais e cruzamentos movimentados.
Curitiba também possui botoeiras chamadas "inteligentes", com recursos voltados à acessibilidade. A partir deste dispositivo, é possível liberar um tempo extra para travessia, voltado a pessoas com mobilidade reduzida. Esse tipo de botoeira também emite sinal sonoro e tem etiqueta em braille.