Direto da Redação
Guilherme Freling: "A surpresa planejada"
Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano


Antes de entrar na redação, ficava muito curioso para saber como a equipe do DG dava conta de produzir tantos textos de um dia para o outro. Quantas pessoas eram necessárias para escrever tudo? Quantas horas trabalhavam? Como ouviam tanta gente em tão pouco tempo?
Aqui dentro, percebi que o jornal é uma grande mistura. É verdade que os jornalistas são profissionais e capazes de produzir textos de um dia para o outro. Mas esse trabalho exige muito planejamento também.
Todos os dias, repórteres sugerem pautas para o futuro, os fatos demoram para se desdobrar e existe a agenda de assuntos que o jornalismo precisa falar e que a gente sabe quando vão acontecer.
Tudo isso é aproveitado, mas nem tudo vira notícia de um dia para o outro. Às vezes, a apuração de uma reportagem se inicia semanas ou meses antes da história ser impressa. É comum que uma notícia mais urgente se atravesse. Pode ser um temporal que causou mais estragos do que o previsto, ou a morte de alguém importante que derrubou as demais matérias.
Obituários são escritos com os personagens ainda vivos. Matérias do esporte anteveem a vitória dos dois times e algumas séries só vão às bancas com todas as reportagens prontas.
Qualquer publicação dessas surpresas depende de cálculos feitos o tempo todo pelos jornalistas: o que é mais importante para nosso leitor? O que é mais urgente? O que é mais interessante? Temos foto? Tudo tem que caber em um espaço limitado. Por isso, se a surpresa do dia for mais importante, ninguém se acanha de derrubar o que estava planejado.
Acredito que seja um pouco assim que devemos levar a vida. Planejamos o roteiro de um passeio, com alternativas para a surpresa de um lugar fechado ou de ingressos esgotados. Mas devemos reservar um espacinho para o acaso. Um bar novo, uma pessoa interessante que surge do nada. O inesperado também pode estar em nossos planos.