Coluna da Maga
Magali Moraes: depois da chuva
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho


Os últimos dias aqui no RS foram de temporal, vendaval, raios, trovoadas e granizo. Perdi a conta de quantos alertas da Defesa Civil recebi no celular. Risco ALTO de alagamento e destelhamento. Mantenha-se seguro, eles repetiam. E a tensão invadindo cada fresta da gente. No meio da noite, o sono interrompido pelo forte barulho dos ventos, o sacudir das janelas, ter que levantar pra fazer a ronda. A instabilidade climática perturbando o nosso descanso.
Quando o céu limpa, até que enfim, vem a trégua. Se vem o sol, ninguém pode afirmar. Aproveito pra abrir a casa, arejar as ideias e lembrar do tempo em que eu gostava de dias chuvosos. Pra não ficar com ranço da chuva, imagino crianças fofas pulando em poças d’água e dando risada. Penso em galochas coloridas. Lembro da minha infância e dos verões na praia: depois da chuva, a gente adorava sair de bicicleta pra ir na padaria mirando nas poças e se sujando com os respingos.
Umidade
Bolinhos de chuva também são uma boa lembrança. Se bem que agora logo se pensa na fritura que faz mal. Enquanto as toalhas de banho demoram pra secar com tanta umidade, eu me pergunto: tomei banhos de chuva o suficiente? Provavelmente não. Hoje em dia, eu ficaria preocupada em pegar uma pneumonia. Será que deixei os meus filhos tomarem banhos de chuva e pular livremente nas poças? Minha memória de mãe protetora logo responde “Claro que não, pra depois ir correndo na pediatra?!”
Enquanto eu escrevia essa coluna, o céu clareou. O que não é garantia de nada, nesse momento você pode estar me lendo de sombrinha em punho. Se a chuva virou sinônimo de alertas e medos, depois que ela passa a gente segue em frente até o próximo susto. Botar a culpa no coitado do São Pedro chega a ser ingenuidade. As mudanças climáticas são um fato. É por causa delas (e dos problemas de sempre) que está quase impossível olhar pra chuva e romantizar, pensando em coisas boas.