Papo Reto
Manoel Soares: "Frieza responsável"
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados


A frieza geralmente é atribuída a pessoas insensíveis, mas nem sempre é verdade. Normalmente, quem costuma exigir que as pessoas sejam menos frias são aqueles que não conseguiram acessar uma comunicação emocional com o outro. Uma das lições que aprendi na vida é que nada que deveria vir naturalmente pode ser exigido, e isso vale para conexões emocionais.
Ser frio às vezes não é falta de empatia, mas autocuidado. Quando estamos disponíveis a absorver os sentimentos dos outros, precisamos estar cientes que esse acolhimento vai demandar energia e vai também impactar nossa vida. Por exemplo, quando uma pessoa que amamos passa na faculdade, a alegria dessa pessoa nos contagia, mas se essa pessoa sofrer um acidente de carro, a aflição dela também.
Manter-se mais distantes dos impactos dos outros é uma forma de se blindar e exercer autorresponsabilidade. Se você sabe que uma situação é emocionalmente pesada para você e ainda assim se coloca na condição de ajudador, você coloca os sentimentos das pessoas e os seus em risco. Precisamos entender que o nosso bem-estar é nossa responsabilidade.
Colocar-se em risco, sem estrutura, somente por achar que um milagre vai acontecer, é como tentar salvar alguém que está se afogando sem saber nadar. O que muitos entendem como frieza pode ser na verdade um gesto de coerência. Precisamos entender que temos limite, que não damos conta de tudo e que a solidariedade sem responsabilidade não é bondade, mas o ego querendo se alimentar da dor de outros.