Seu Problema é Nosso
Moradores do Rubem Berta improvisam travessia após antiga passarela cair na enchente de 2024
Entulhos viraram ponte para a comunidade acessar escola, posto de saúde e supermercado na divisa entre Porto Alegre e Alvorada


Cansados de aguardar por uma solução das prefeituras, moradores do limite entre Porto Alegre e Alvorada preferiram improvisar passarelas para atravessar o Arroio Feijó. Derrubada pela enchente de maio do ano passado, a antiga passagem de concreto deu lugar a ripas, galhos e entulhos que fazem as vezes de ponte.
— Desde que caiu a ponte no ano passado, a gente faz um pontilhão de madeira baixinha. É uma travessia usada para as crianças irem para o colégio. Posto de saúde é tudo no São Cristóvão (em Porto Alegre). Água e luz é tudo abastecido por Porto Alegre — relata o morador Vanderlan Rodrigues Mota, 71 anos.
A cada chuva, porém, essa estrutura é levada pelas águas e os moradores ficam impedidos de transitar novamente. A antiga passarela, destruída na enchente, tinha 1,5 metro de largura e 3 metros de comprimento.
Mãos na massa
Por conta da importância da passagem, a comunidade tentou construir uma estrutura mais forte, com concreto e tijolos, duas vezes. Organizaram até uma vaquinha, que juntou cerca de R$ 15 mil. As duas obras, porém, desabaram novamente.
A costureira Adriana Marques Machado, 46, foi quem organizou as compras de materiais, cujas notas fiscais continuam guardadas. Ela cobra uma ação do poder público:
— Isso é para a prefeitura. São coisas que têm que ser com engenheiro. Nós, moradores, não temos condições de fazer uma ponte, onde periga até acabar pessoas morrendo — defende.

Travessia necessária
Se for seguido à risca o mapa oficial de Porto Alegre, Adriana seria moradora de Alvorada. Sua casa fica na margem oeste do Arroio Feijó, entendido como o limite entre os dois municípios.
Acontece que ela e os 50 vizinhos da Rua 13 de Setembro, naquele lado do Feijó, usam serviços essenciais fornecidos pela Capital. Saúde, transporte, educação e até trabalho de que dispõem estão do outro lado das águas.
Para quem faz o caminho inverso, a situação também virou uma dor de cabeça. A região fica próximo de um supermercado atacadista de Alvorada e do centro de treinamento das categorias de base do Inter.
Quem preferir evitar o improviso tem a alternativa da ponte que liga a Avenida Baltazar de Oliveira Garcia, em Porto Alegre, à Avenida Presidente Getúlio Vargas, em Alvorada. Porém, para chegar ao outro lado do riacho por esse caminho, é necessário caminhar mais de 2 quilômetros.
— A gente tá precisando muito (da passarela). Meu guri mesmo, estuda e solta às seis e pouco da noite. É um jovem de 16 anos. Aí, ele tem que fazer a volta pelo Atacadão de Alvorada, para passar por dentro do mato, um lugar em que várias pessoas já foram assaltadas — desabafa Adriana.
Cooperação
Presidente da Comissão de Direito Urbanístico e Planejamento Urbano da OAB-RS, Felipe Scopel Vanin explica que a responsabilidade por oferecer uma solução para o caso depende de um acerto entre os dois municípios:
— A legislação diz que cada município é responsável pelas obras dentro de seu território, mas não há uma lei que defina as responsabilidades nas divisas. (Nesses casos) a Constituição prevê cooperação entre os entes e a responsabilidade é compartilhada, porque vai beneficiar as populações dos dois municípios.
Contraponto
/// Segundo a assessoria dos municípios, a Secretaria de Serviços Urbanos de Porto Alegre (SMSUrb) e a prefeitura de Alvorada acertaram uma cooperação com divisão de tarefas para recuperação da passarela.
/// Alvorada será responsável pela mão de obra e maquinário, enquanto Porto Alegre fornecerá uma ponte metálica pré-montada, além da execução da fundação sobre a qual ela será colocada. O projeto estrutural está sendo formulado pela administração de Porto Alegre.
/// Em nota, a SMSUrb informou que a previsão é de que as obras se iniciem em novembro. O investimento será de R$ 150 mil.
*Produção: Guilherme Freling