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Direto da Redação

Pedro Garcia: "Coisas do coração"

Jornalistas do Diário Gaúcho opinam sobre temas do cotidiano

06/08/2025 - 05h00min


Pedro Garcia
Pedro Garcia
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Agência RBS/Agência RBS

Eu devia ter oito ou nove anos quando a professora de ciências apareceu na escola com um estetoscópio. A proposta era que nós, os alunos, medíssemos as pulsações uns dos outros. 

Parecia divertido. Os nomes de todos foram escritos com giz no quadro negro (que era verde) e, ao lado, um espaço para anotar a atividade cardíaca de cada um ao cabo de 1 minuto. 

Assim o aparelho foi passando de mão em mão, e de peito em peito. Tudo andava bem até que chegou a minha vez e eu percebi que quem me auscultaria não seria qualquer colega, mas a menina por quem eu estava apaixonado.

Àquela altura, ninguém admitia esse tipo de sentimento. Amávamos em absoluta discrição e ainda estávamos na fase em que meninos e meninas evitam contatos mais próximos.

Era de se esperar, portanto, que eu não estivesse emocionalmente preparado para ver aquela garota – aos meus olhos, tão graciosa como uma divindade grega – a menos de um palmo de distância e com a mão grudada em meu corpo. Era romantismo demais para alguém de 1,30m que ainda passava as tardes brincando com Power Rangers.

O resultado não podia ser outro: meu coração disparou. Acelerou descontroladamente. Era tão violento que eu podia sentir a taquicardia até nos dedos dos pés. Vi o semblante de espanto dela quando passou a ouvir o que se passava dentro da minha caixa torácica. E quando pensava que ela, por óbvio, já havia entendido o que estava acontecendo, a coisa só piorava. Foram os 60 segundos mais longos da minha vida.

O fiasco veio em seguida. No quadro, o número de batimentos pouco variava, sempre na faixa de 70. No meu caso, tinham sido 180. “O Pedro teve alguma emoção”, disse a professora, tentando dar alguma satisfação. Com o rubor subindo das bochechas em direção às orelhas, eu fingia não perceber que todos ao redor já me dirigiam sorrisinhos maliciosos. A ficha, claro, tinha caído. Eu estava exposto. O maldito estetoscópio havia captado o meu segredo.


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