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RETRATOS DA VIDA

Projeto criado por duas amigas de Porto Alegre ensina sobre a história e a simbologia das tranças

Com o Nzinga Black, Andrieli Mendonça e Tamires Machado levam saberes da cultura negra para escolas e comunidades periféricas 

07/08/2025 - 05h00min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho

Inspiradas no reconhecimento da profissão de trancista pelo Ministério do Trabalho, no mês de junho, duas amigas criaram o projeto Nzinga Black. Andrieli Mendonça e Tamires Machado, ambas com 27 anos e de Porto Alegre, já trabalhavam na área há muitos anos. A iniciativa surgiu como forma de repassar esse conhecimento, que é ancestral. Por meio de oficinas em escolas e eventos comunitários, elas narram a história e os simbolismos das tranças. Ainda realizam um trabalho de autoestima, falando sobre a beleza negra e a relação com o cabelo, e ensinam a crianças e adolescentes a arte de trançar.

As amigas se conheceram durante a enchente do ano passado. Naquela época, juntamente com outras trancistas da Capital, se mobilizaram para trançar principalmente crianças que estavam em abrigos, como forma de distração em um período tão conturbado. 

Atualmente, Tamires possui um estúdio em sua própria casa, onde atende nos momentos de folga de seu trabalho como cuidadora de idosos. Já Andrieli parou sua atuação na área de eventos há dois anos, quando as tranças se tornaram a sua principal fonte de renda. 

— Eu sempre quis fazer algo relevante, mas não sabia o que, onde eu me encaixava. Acho que são coisas que, com o tempo, a gente vai aprendendo. Então, eu sempre achei muito importante sentir a história das tranças. Eu nunca trancei por trançar — diz Andrieli.

Em maio desse ano, após conversar com diferentes lideranças comunitárias sobre o projeto, decidiram seguir e expandir a atuação, apresentando-o em escolas e eventos culturais periféricos. Apesar de ser recente, a iniciativa já passou por cinco escolas. O orgulho em poder participar de uma formação para crianças e jovens move as coordenadoras. 

— A gente podia transformar o projeto em algo mais significativo, e nada melhor do que começar pelas crianças — ressalta Andrieli.

Para Tamires, é uma forma de mostrar e valorizar a beleza negra: 

— É sobre autoestima, autocuidado, mostrar para eles que podemos ser o que quisermos e se amar do jeito que a gente é.  

O Nzinga Black é dividido em três formatos. Para crianças de 10 a 14 anos, fala sobre a história das tranças e autoestima. Acima de 14 anos, a oficina é para aprender a trançar, com as técnicas nagô e box braids. Ainda há formação para profissionais das instituições.

Um espaço para valorizar a herança negra

No dia 2 de julho, na Escola Mariano Beck, localizada no bairro Bom Jesus, além das oficinas para as crianças e adolescentes, a formação também foi realizada para os funcionários. Um deles foi Richard Farias, 23 anos, que participou da oficina devido ao seu interesse em aprender mais sobre a história do povo negro e sobre as tranças: 

— Participar do projeto me deu a oportunidade de desenvolver mais meu interesse por tranças. Para mim, que não sabia muito sobre, com o projeto conheci o básico. Eu sou o exemplo de que as tranças não são feitas apenas por mulheres, que homens também podem praticar a arte das tranças.

Vendo o empenho dos participantes, Andrieli e Tamires se sentem realizadas em tirar a iniciativa do papel. 

— O projeto tem sido uma jornada de transformação e reconhecimento. Cada criança trançada, cada mulher e aluna que se olha no espelho com mais amor, é um reflexo do propósito que move o Nzinga Black. É uma extensão da minha história. Um lugar onde ser preta, ser mulher e ser criadora são fontes de orgulho e potência —ressalta Tamires. 

Como entrar em contato: 

/// As coordenadoras do Nzinga Black desejam mostrar o seu projeto para mais escolas.

/// Interessados podem entrar em contato no Instagram @projetonzingablack. A oficina é gratuita, mas é cobrada taxa de deslocamento. 


*Produção: Ana Júlia Santos


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