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Rasteira na fome

Evento faz da capoeira uma ferramenta de ação social

Entre os dias oito e 14 de setembro, projeto na Capital usa o esporte para promover reflexão sobre o combate ao racismo

05/09/2025 - 05h00min


Émerson Santos
Émerson Santos
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João Pedro Dalcin e Rodrigo Ávila/AudioVisual
Último dia de atividades será domingo (14), no Parque da Redenção.

Fazer da capoeira uma ferramenta de transformação social é um propósito que o Instituto Cultural Rasteira na Fome, sediado em Porto Alegre, já desenvolve ao longo de seus 25 anos de atividade. Seguindo nessa missão, firmou parceria com o Grupo Muzenza Capoeira e, ao longo deste ano, ambos lançaram um projeto que junta cultura e educação com o foco em conscientizar sobre igualdade e racismo.   

E uma das propostas da ação é ocupar a Capital. Assim, a partir de segunda-feira (8), o circuito cultural Capoeira pela Igualdade Racial promove palestras e oficinas ligadas ao tema em diferentes pontos da cidade. É o que explica Fabiano Silveira Silva, 47 anos, conhecido como contramestre Cabeça:  

— Vamos visitar vários territórios de Porto Alegre, todos eles com alguma referência à cultura preta. Estamos dando exaltação à capoeira. Será uma semana intensa, com muitas atividades bacanas.  

De legislação à espiritualidade

Na abertura do evento, uma roda de conversa irá falar sobre as leis de racismo e injúria racial. Esse primeiro encontro ocorre às 19h30min, no Gal Bar (Rua João Alfredo, 425, Cidade Baixa). Assim como em toda a programação, a entrada é gratuita. É solicitada apenas a doação espontânea de alimentos não perecíveis, que serão entregues a comunidades atendidas pelo instituto. O encontro será mediado por Mário Augusto da Rosa Dutra, o mestre Guto, que também integra a organização do projeto, ao lado de Cabeça. 

Outro destaque da semana é a aula O Lado Místico da Luta, Aquilo que os Olhos Não Enxergam. Será uma formação, marcada para terça-feira (9), no terreiro Ile Asé Iyemonja Omi Olodo. No encontro, mestre Gororoba fala sobre a espiritualidade presente nessa expressão cultural. 

E assim segue a programação, até domingo (14), com palestras, shows, rodas de capoeira e mais. A agenda completa pode ser consultada no Instagram do instituto

Durante os sete dias de atividades, mais de 40 mestres convidados, de diferentes Estados, passarão pelo evento. 

A ideia de trazer esses capoeiristas de outros cantos do país foi também para promover trocas de experiências. Algo que é conectado com a própria essência da luta, que valoriza a noção de comunidade.

Conexão com a trajetória do negro

Ao falar sobre a relação da prática com o tema proposto pelo projeto, o contramestre Cabeça relembra que a história desse esporte está ligada diretamente com a trajetória do negro no país. Ele explica que, no período da escravidão, as pessoas escravizadas usavam os seus corpos como ferramentas para fugir daquelas condições em que viviam e, assim, “criavam comunidades”. 

— Quando se estuda a história da capoeira, a origem da capoeira, a gente vê que está exaltando o tempo todo o povo preto. Então, para mim, a capoeira é essência da cultura negra, viva — reforça, pontuando ainda a própria responsabilidade que carrega. — Eu ser capoeirista e não conseguir falar sobre sistemas de racismo, homofobia, fome, miséria, desigualdade social, eu não tô exercitando meu papel de capoeirista. 

Esse espírito de união que ele menciona se estendeu para além dos palestrantes que vêm de fora. Isso porque caravanas de cidades como Blumenau (SC) e Irati (PR) se organizam para participar das atividades. Um movimento, destaca Cabeça, que por tabela ajuda no turismo e na economia de Porto Alegre. 

Teatro e história

O circuito cultural é, na verdade, a continuidade de um projeto que se iniciou meses antes. Em uma primeira etapa, capoeiristas do Instituto construirão um espetáculo de música e teatro para ser apresentado em 10 escolas públicas. A ação foi patrocinada por emenda parlamentar da deputada federal Daiana Santos. 

— É um teatro musical contando a história do negro, trazendo a narrativa de uma educação antirracial. É A Lição Ancestral o nome dessa peça. Ela vai visitar 10 escolas e, depois, serão feitas oficinas nas mesmas escolas, dando continuidade ao tema abordado na apresentação — explica Cabeça. 

Já ocorreram três dessas apresentações. As demais serão ao longo do mês de setembro. Cabeça procurou Francisco Almeida, professor de Teatro da UFRGS, para dirigir o espetáculo.   

— A capoeira é uma das maiores ferramentas de inclusão social e de transformação de pessoas. Capoeira transforma vidas, cara — finaliza.



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