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Ex-secretária da causa animal de Canoas teria usado cargo para matar dezenas de bichos

Segundo delegada, Paula Lopes seria responsável por 239 eutanásias em oito meses e passou a ser investigada após denúncias

04/09/2025 - 09h39min


Guilherme Milman
Guilherme Milman
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Ronaldo Bernardi/Agencia RBS
Policiais cumprem mandados de busca e apreensão contra ex-secretária suspeita de estelionato e maus-tratos.

Uma mulher que atuou como secretária da causa animal em Canoas, na Região Metropolitana, é investigada há oito meses pela Polícia Civil por usar a estrutura do município para matar animais doentes, prática conhecida como eutanásia, além de estelionato. Ela é o principal alvo da Operação Carrasco, realizada na manhã desta quinta-feira (4). Foram cumpridos seis mandados de busca e apreensão.

A Polícia não divulga nomes, mas a reportagem apurou que se trata de Paula Lopes. Ela tomou posse como secretária em janeiro deste ano, no início da gestão do prefeito Airton Souza, e foi exonerada em agosto. Em uma publicação do Diário Oficial no último dia 13, consta que a exoneração foi feita a pedido da secretária.

As investigações tiveram início após denúncias feitas desde abril deste ano. Segundo a delegada Luciane Bertoletti, da 3ª Delegacia de Polícia de Canoas, relatos apontam que ela teria matado de 15 a 30 animais por semana, principalmente cachorros e gatos.

Durante a ação, foram encontrados ao menos 14 bichos mortos guardados em sacos plásticos num freezer. Além disso, na sede da própria secretaria, havia um container fechado e sem ventilação onde eram mantidos muitos gatos em gaiolas, alguns até mesmo sem caixa de areia.

— Diversas denúncias de pessoas que trabalhavam dentro da Secretaria do Bem-Estar Animal davam conta de uma matança indiscriminada de animais na secretaria. Essas pessoas tiraram fotos deles em sacos  que estavam acondicionados ali mesmo. E na terça e na quinta-feira, esses bichos eram levados até uma universidade para serem incinerados — afirma a delegada.

A delegada Luciana aponta que foram ao todo 239 eutanásias em oito meses e ainda foram encontrados termos de entrega de carcaças assinados, mas com os dados a serem preenchidos. A operação contou com a colaboração de agentes do Instituto-Geral de Perícias (IGP) e membros de ONGs de proteção a animais, que ajudam a contabilizar e encaminhar os bichos resgatados na secretaria para um local seguro.

— Eu percebo que é uma eutanásia em excesso pela quantidade de animais e também um local que não é um lugar que abriga animais para um conforto e um tratamento. Locais onde a gente entrou, não dava nem para aguentar o cheiro — opina Vladimir da Silva, da Rede de Proteção Ambiental e Animais (REPRAAS), de Teutônia.

Além de ter atuado no Executivo, Paula tem uma ONG voltada ao resgate de animais, o Instituto Paula Lopes. Conforme a polícia, ela usaria a chave Pix da instituição para receber valores de campanhas em que prometia resgatar e cuidar de animais, mas há indícios de desvio desses recursos pela ex-secretária. Foram encontrados cerca de R$ 100 mil em espécie na casa dela.

A investigação aponta que ela se valia da própria instituição para levar bichos resgatados ao gabinete. No entanto, animais que já tinham tutores e que estavam sob os cuidados da secretaria também seriam executados.

— Se a gente for dar uma olhada nas redes sociais, ela recolhe muitos bichos e esses bichos nunca parecem saudáveis. Nunca aparecem tratados. Nós também temos a desconfiança de que ela, na verdade, recolhe bichos justamente para ganhar um dinheiro em cima desses animais — acrescenta.

Conforme a delegada, Paula realizaria a eutanásia dos animais por ser mais barato do que tratá-los. Ela pode responder também por maus-tratos. A ex-secretária usaria injeções para a prática.

As buscas feitas na manhã desta quinta-feira são realizadas em endereços de Canoas, incluindo a própria sede da secretaria, Porto Alegre e Arroio dos Ratos, em um sítio de uma parente da investigada. A suspeita é que ela realiza a mesma prática no local.

Contraponto

A reportagem de Zero Hora procura a defesa de Paula Lopes. O espaço fica aberto a manifestações. 

Nos stories do Instagram, ela confirmou o cumprimento de mandado em sua residência e afirmou que o seu celular foi confiscado. Nos vídeos, ela afirma que as denúncias são infundadas.

— Isso é só mais um reflexo do que a política faz — diz ela. — O meu único objetivo vai ser sempre ajudar os animais.

Paula ainda contou que foi alvo de outras denúncias do Ministério Público no passado, que não foram adiante e que o trabalho dela "incomoda" outras pessoas. Ela prometeu divulgar "as verdades disso tudo" assim que possível.

A prefeitura de Canoas se pronunciou em nota:

A Prefeitura de Canoas recebe com indignação as denúncias relacionadas à operação realizada na manhã desta quinta-feira (4). A administração municipal sempre se comprometeu a tratar o cuidado com os animais como prioridade. A Prefeitura reitera que colabora com as investigações e abriu um expediente interno para apurar os fatos com todo o rigor.

Quem é Paula Lopes

Apesar de não estar mais no cargo, o nome de Paula ainda consta como secretária da causa animal no site da prefeitura de Canoas, em que ela é introduzida como "empresária e ativista da Causa Animal, onde atua há mais de 20 anos".

No ano 2000, conforme a biografia, ela fundou o Projeto Adoradores de Vira-Latas. Já em 2018, ela criou a Associação Nacional Instituto Paula Lopes, na qual atua até hoje.

Nas redes sociais, tanto o perfil pessoal dela quanto o da ONG mostram vídeos de cachorros em más condições sendo acolhidos por ela. Paula ainda teve forte atuação durante a enchente do ano passado.


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