Coluna da Maga
Magali Moraes: pisando em ovos
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho


A língua portuguesa é bem servida de figuras de linguagem que a gente usa no automático, sem pensar no literal. Deixa que eu faço isso. Sabe aquele tipo de pessoa que te faz pisar em ovos? Imagina se acontecesse de verdade. O chão tomado por dúzias e dúzias de ovos, e os pés procurando um jeito de pisar sem quebrar nadinha. Um equilibrismo impossível, mas que representa o que é conviver com quem te deixa sempre tenso, onde tudo pode gerar conflito.
Quebrar ovos pra fazer uma bela omelete é o que se quer, mantendo os pés limpos e a paz de espírito. Tem outra que eu gosto: chutar o balde. Ah se o problema fosse soltar a alça, o que acontece seguido e causa estrago. Também não é o caso de culpar os distraídos que tropeçam sem querer, inclusive em baldes cheios de água. É chutar o balde de propósito (mentalmente). Pra botar pra fora a raiva ou assumir o descontrole (como chutar o balde no fíndi, beber e comer demais).
Anatomia
Dar com a língua nos dentes, quem nunca? O curioso dessa figura de linguagem é que a nossa anatomia faz com que a língua encoste nos dentes a todo instante. Por que falar o que não se deve é dar com a língua nos dentes? Um céu da boca fofoqueiro. Um hálito que não perdoa segredos. A arcada dentária cúmplice das papilas gustativas. Nessas horas, melhor ter boca de siri. Agora se a pessoa tiver a língua afiada vai soltar o verbo, criticar, ser sarcástica, irônica e desagradável.
Falar pelos cotovelos, outra boa. O que o cotovelo tem a ver com isso, se nunca na vida emitiu um som? Ainda no setor dos membros superiores: dar o braço a torcer. A gente fala como se fosse normal, mas dói só de imaginar. Essa expressão é sobre se convencer de algo, reconhecer que errou, mudar de opinião. Tudo certo. Desde que meu bracinho permaneça no seu devido lugar, sem torção ou violência. Dica final: não precisa levar tudo ao pé da letra. Até porque letra não tem pé.