Papo Reto
Manoel Soares: "Comentário para David"
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados


Imaginem vocês que um país inimigo decidisse invadir o Rio Grande do Sul, decidisse que as casas não eram mais dos gaúchos, mas dos invasores, que o nome das ruas e cidades iria mudar. Continuando em nossa imaginação, agora pense que o governo do Estado chegou à conclusão de que não teríamos Brigada Militar suficiente para defender nossa terra. Para resolver o problema, decide chamar pais de famílias que vivem na miséria e sem dignidade para a luta, prometendo que se vencessem iriam ter tudo que sonhavam para os seus filhos e esposas.
Entre os detalhes desse acordo, estava que esses homens não teriam armas, só umas armas artesanais como facas, paus e pedras. Muitos aceitaram e, mesmo sabendo que as chances eram pequenas, acreditaram na possibilidade de ter dignidade na vida. Esses homens foram para essa guerra sem armas e dispostos a morrer, ao invés de viver como animais abandonados.
Agora imaginem vocês que a guerra estava cada vez mais difícil e, em determinado momento, quem comanda o Estado decidiu que iria se render e negociar com os invasores. Neste acerto, não estava honrar o acordo que fez com os homens que decidiram arriscar suas vidas com armas improvisadas na batalha. No impasse, em nossa história fictícia, a Brigada Militar e o governador decidem informar aos invasores a localização dos homens, para que no meio da madrugada atacassem de surpresa e matassem todos eles.
Pois é, por pior que pareça, isso aconteceu de verdade, foi em 14 de novembro de 1844. David Canabarro, líder farroupilha, escreve para o duque de Caxias e entrega os Lanceiros Negros para os Imperiais. Uma mancha vergonhosa na história desse Estado cheio de virtudes. O Massacre de Porongos precisa ser lembrado para que, em nome das conveniências, os poderosos não sacrifiquem os mais pobres. A pergunta que fica é: se David Canabarro tivesse Instagram, o que você deixaria de comentário para ele?