Notícias



Cada vez mais cheio

"Pântano do Shrek": acúmulo de água em reserva após enchente preocupa moradores de condomínio em Porto Alegre

Banhado está crescendo em área de proteção Permanente (APP) que fica ao lado das moradias e matando árvores do local

28/09/2025 - 19h59min


Guilherme Gonçalves
Guilherme Gonçalves
Enviar E-mail
Arquivo Pessoal/Arquivo Pessoal
Árvores mortas estão banhadas por água verde em banhado na Zona Norte.

Em 2020, uma família comprou uma casa dentro de um condomínio fechado no bairro Sarandi, na zona norte de Porto Alegre. O loteamento Reserva Ecoville, como é chamado o empreendimento, fica ao lado de uma Área de Proteção Permanente (APP) com centenas de árvores. Ouvir o canto dos pássaros e sentir a brisa da floresta pesou na hora de fechar o negócio. Porém, no último ano, a vista que se tem da varanda do imóvel mudou drasticamente.

— Começou a aparecer um laguinho lá no meio do mato, que foi aumentando. Virou um "pântano do Shrek", com água verde e podre. Agora está a três metros das nossas casas. Já morreram todas as árvores do meio e agora estão morrendo as encostadas no condomínio — descreve a moradora, que prefere não ser identificada. 

Depois da enchente de maio de 2024, a área de reserva ambiental Parque Reserva do Açungui, que faz parte de uma propriedade privada junto ao condomínio, virou um grande banhado. No local, aos fundos do empreendimento, existia uma valeta de drenagem criada pelos proprietários do terreno. Desde a cheia no ano passado, a água das chuvas parou de escoar e começou a ficar acumulada no local.

Árvores de mais de 10 metros de altura no matagal ficaram murchas e sem folhas. A água acumulada em volta delas está verde e virou lar de sapos, garças e marrecos. Além da vista não estar bonita, os moradores estão preocupados que o novo lago invada suas casas.

— Estou apavorada. A água não para de crescer. Minha casa já está criando mofo. Imagina como vai ficar isso no verão. Essa água toda parada — diz a moradora do condomínio que procurou a reportagem.

Arquivo Pessoal/Arquivo Pessoal
Água está se aproximando das casas do condomínio.

Entenda o caso

O loteamento Reserva Ecoville existe há mais de 10 anos e não chegou a ser atingido diretamente pela enchente de 2024, que, contudo, afetou pontos próximos ao condomínio. Em agosto do ano passado, uma praça pública que fica ao lado do empreendimento passou por obras de drenagem do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae).

Segundo o departamento, a intervenção consistiu na recuperação de bacias de amortecimento existentes no local e não teria relação com o acúmulo de água ao lado do condomínio.

"A cota da tubulação que interligava esta valeta com a bacia de amortecimento da Praça Açungui foi mantida, tendo sido qualificada a captação da rede pluvial que, antes, corria à céu aberto", diz o Dmae. 

Mesmo assim, ciente do ocorrido, o departamento diz ter executado a manutenção parcial da estrutura, em trecho de 30 metros lineares, após equipes constatarem assoreamento e obstrução parcial da valeta.

"Em vistoria realizada em 21 de agosto, foi constatado que o fluxo foi restabelecido por meio da retirada dos resíduos que impediam o escoamento da água", afirma o Dmae.

Os moradores do condomínio discordam de que o fluxo normal tenha se restabelecido e afirmam que a água segue subindo no banhado. O departamento responde que, por se tratar de área privada e de preservação permanente, novas ações devem ser adotadas pelos proprietários do terreno, com autorização dos órgãos ambientais.

O que diz o Dmae:

"O Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae) informa que o Parque Reserva do Açungui é considerado Área de Preservação Permanente (APP), de propriedade particular, criada quando da aprovação e construção de condomínio no terreno vizinho. No local, aos fundos do empreendimento, existe uma valeta de drenagem superficial, criada pelos proprietários à época.

Em 6 de agosto de 2025, o Dmae executou a manutenção parcial da estrutura, em trecho de 30 metros lineares, após equipes constatarem o assoreamento e obstrução parcial da valeta. Em vistoria realizada em 21 de agosto, foi constatado que o fluxo foi restabelecido por meio da retirada dos resíduos que impediam o escoamento da água. Por tratar-se de área privada e de preservação permanente, novas ações devem ser adotadas, se necessário, pelos proprietários, com autorização dos órgãos ambientais.

A situação não está relacionada com as obras de drenagem na Praça Açungui, que é pública. Esta obra consistiu na recuperação das bacias de amortecimento existentes no local, e foi executada em 2024. A cota da tubulação que interligava esta valeta com a bacia de amortecimento da Praça Açungui foi mantida, tendo sido qualificada a captação da rede pluvial que, antes, corria a céu aberto."


MAIS SOBRE

Últimas Notícias