Mercado imobiliário
Qual a renda mínima para financiar um imóvel em Porto Alegre? Veja mapa com dados por bairro
Pesquisa avaliou dados das 20 localidades com mais transações e mostrou que para comprar bem com preço na média nestas áreas é preciso ganhar ao menos três salários mínimos


Com juro alto e gargalos para liberação de crédito imobiliário no país, a compra da casa própria segue sendo um desafio para grande parte da população. Em Porto Alegre, quem busca financiar um imóvel residencial precisa comprovar uma renda de pelo menos três salários mínimos — hoje em R$ 1.518. É o que aponta levantamento da Loft, empresa de tecnologia e serviços financeiros para imobiliárias.
Levando em conta os 20 bairros com maior número de transações em junho e julho de 2025, a pesquisa da Loft mostra que a renda mínima para financiar um imóvel em Porto Alegre varia entre R$ 4,6 mil e R$ 47 mil atualmente, dependendo da localização.
O valor médio mais baixo fica no bairro Restinga, na zona sul da Capital. Já o bairro Bela Vista concentra a média mais alta (veja os dados no mapa abaixo).
A renda mínima necessária para financiar é calculada em relação ao valor médio dos imóveis em determinado bairro — ou seja, o dado fica próximo do preço mais recorrente, mas há negócios com valores maiores e menores.
Os resultados da pesquisa mostram, segundo especialistas:
- a diferença do peso do financiamento nos grupos de renda;
- efeitos do juro alto sobre o mercado imobiliário; e
- influência da localização nos valores dos imóveis.
Fábio Takahashi, gerente de dados da Loft, afirma que o levantamento mostra, de forma objetiva, como a renda mínima exigida muda de um bairro para outro, de acordo com as características de cada região. Takahashi também afirma que o juro básico em patamar elevado, ainda em 15% ao ano, exerce uma pressão direta sobre os financiamentos. No entanto, ele destaca que essa alta não é repassada na íntegra:
— O que a gente acompanha é que teve impacto, mas, no geral, a venda de imóveis segue estável. Não tem uma grande queda ao longo do tempo, nos últimos meses. Então, em algumas situações, o financiamento ficou mais difícil, mas não é na mesma proporção que aumentou a taxa Selic. Ainda sobra uma margem para se financiar imóvel.
A simulação da Loft é realizada com o apoio do Financiômetro, ferramenta que calcula a entrada e a renda necessária para obter o financiamento. O levantamento cruza valores médios dos imóveis vendidos nos últimos três meses, usando dados do Imposto de Transmissão de Bens Imóveis (ITBI), e as condições médias atuais de financiamento nos principais bancos do país. É simulado um financiamento de 70% do valor do imóvel, com parcelas em 420 meses. O dado pega imóveis residenciais usados e novos.
Achatamento da renda
Ao apontar a renda mínima necessária para pagar a parcela inicial média do bem financiado, a pesquisa reforça como o financiamento imobiliário compromete mais a renda das classes com menor poder aquisitivo. O total de recurso que precisará ser desembolsado para entrada, pagamento das parcelas e demais gastos muitas vezes não cabe no orçamento dessas pessoas, que precisam fazer frente a outros gastos fixos, como alimentação, saúde, educação e lazer. Com isso, em alguns casos, o morador segue no aluguel. Isso acaba afastando parte da população de renda baixa ou média da casa própria.
— Ao invés de a pessoa pagar uma parcela de R$ 1,2 mil no Jardim Leopoldina, ela vai alugar um imóvel por R$ 1 mil, 1,1 mil por exemplo. Porque, no final do ano, ele vai poupar R$ 1,2 mil, R$ 2 mil ou mais — comenta o professor da Faculdade de Arquitetura e da pós-graduação em Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Eber Pires Marzulo.
Ou seja, quanto mais baixa é a renda, menos espaço no orçamento o consumidor tem para bancar as prestações. Já na outra ponta, de quem tem rendimento maior, é mais fácil absorver o valor do imóvel ou de eventual parcelamento. Isso tende a aumentar a desigualdade, segundo Marzulo.
Localização
Sobre a grande diferença nos valores de renda mínima para financiamento entre os bairros, o gerente de dados da Loft afirma que a localização tem peso importante. Unidades em locais mais tradicionais, com ampla gama de serviços e infraestrutura, são mais valorizadas.
— No mercado, se brinca que tem três principais fatores que agem para você formar, definir o preço de um imóvel. O primeiro é localização, o segundo é localização e o terceiro é localização. O fato do imóvel estar nesses bairros tradicionais e com boa estrutura eleva o preço, porque a localização, de novo, é o fator mais importante. Depois vem a própria característica do imóvel, mas o principal é onde está — explica Takahashi.