Tenda flutuante
Saiba para que serve boia azul instalada no meio do Arroio Dilúvio, em Porto Alegre
Chamada de "caravela", estrutura desenvolvida com base em tecnologia brasileira usa algas para melhorar condição do ar e da água


Uma espécie de tenda flutuante, em um tom marcante de azul, chama a atenção de quem passa pelas proximidades da foz do Arroio Dilúvio, no bairro Praia de Belas, em Porto Alegre, como se fosse uma embarcação à deriva. Batizado como "caravela", o equipamento é, na verdade, a aplicação de uma tecnologia brasileira inovadora destinada a monitorar e despoluir ambientes aquáticos.
A boia instalada no domingo (7) tem cinco metros de extensão e três de altura. A estrutura é capaz de remover poluentes, monitorar parâmetros ambientais, aumentar a oxigenação da água e capturar dióxido de carbono (CO2) do ar ao estimular o crescimento de algas nativas dentro de sua circunferência, em uma espécie de tela que fica em contato com a água.
Essa ação, chamada de "biorremediação" por utilizar agentes biológicos naturais para descontaminar solos, rios, lagos ou baías, foi implantada na Capital por meio de uma parceria entre a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus) e a empresa Heineken como parte do Plano de Ação Climática do município. É uma das ações destinadas a monitorar a qualidade dos arroios e implementar projetos de revitalização de sub-bacias.
Por enquanto, porém, é um teste com duração de três meses. Depois disso, a prefeitura vai avaliar os resultados e decidir se firma um contrato de longa duração. A iniciativa é custeada pela cervejaria, sem ônus para o município.
Tecnologia brasileira
O dispositivo foi desenvolvido pela empresa brasileira Infinito Mare, de São Paulo, especializada em soluções sustentáveis para ecossistemas aquáticos. Tem um casco em polietileno de alta densidade, tela de malha para permitir o crescimento controlado das algas, sistema de iluminação LED alimentado por energia solar e ancoragem projetada para dar estabilidade ao conjunto.
— Já tínhamos interesse em testar esses jardins flutuantes, que tanto trazem melhora para a qualidade do ar e, principalmente, da água — afirma a diretora de Projetos e Políticas de Sustentabilidade da Smamus, Rovana Reale Bortolini.
Conforme informações da Infinito Mare, a caravela foi desenhada para girar sobre o próprio eixo ao sabor do vento e das correntes, já que essa rotação potencializa o crescimento das algas. Essa funcionalidade foi combinada a uma forma que lembra, propositalmente, tanto um barco a vela quanto uma gota d'água.
Como funciona
As algas captam gás carbônico do ar, ao mesmo tempo em que oxigenam a água. A vegetação é recolhida periodicamente e analisada para indicar eventuais alterações no manancial, como a presença de resíduos industriais perigosos.
A biomassa também pode ser direcionada para uso sustentável, como ser convertida em biofertilizante, biogás ou produtos semelhantes. Novas algas crescem nos dias seguintes, e o processo é reiniciado.
Os desenvolvedores do equipamento sustentam que, ao longo de um ano, a caravela produz créditos de carbono equivalentes ao que é gerado ao longo de 20 anos por seis árvores.
Boia no Guaíba
Conforme a prefeitura, um segundo equipamento desse tipo foi instalado no Guaíba, próximo ao Pontal Shopping. Nesse caso, a iniciativa partiu da própria empresa responsável pela caravela, que estava interessada em testar o seu produto em um manancial mais amplo da Capital. Ainda assim, a prefeitura também receberá os relatórios obtidos pela caravela azulada localizada no Guaíba.
Nos últimos anos, o aparelho já foi colocado em pontos de outras cidades brasileiras, como Curitiba, Belo Horizonte e Rio de Janeiro.