Desrespeito
Vandalismo atrasa conclusão da reforma do Leão da Bento: "Tem sido bem desgastante", lamenta artista
Thiago Machado já teve de reparar a peça e refazer parte do próprio trabalho duas vezes por causa de pichações

Bastou que os responsáveis tentassem transformar o Obelisco Leonístico do bairro Santana em uma peça de arte para que ele se tornasse vítima da triste rotina de muitas das esculturas da paisagem urbana de Porto Alegre: o vandalismo.
O Leão da Bento, como é mais conhecido popularmente — apelido às vezes acrescido do adjetivo "feio" —, é criticado desde sua instalação, em 2016, porque, embora tenha sido instalado em uma praça — a Jaime Telles —, com uma base e uma placa que lhe conferem características de monumento, o objeto foi comprado em uma loja de decoração para jardim à margem da RS-030, em Osório. Seu posicionamento no espaço público marca os 50 anos de fundação da unidade Porto Alegre Bento Gonçalves da organização internacional de voluntariado Lions Clube.
Desgastado pelo período de quase uma década em que acabou se consolidando como parte do acervo da escultura urbana porto-alegrense e conquistando a simpatia de parte da população, o leão está sendo reformado por um artista. O muralista e estudante de arte Thiago Machado lixou a peça, repintou e aproveitaria o processo para tentar deixar mais bonito o olhar do bicho de concreto, que, na forma original, dava-lhe certo ar caricato, dado o desalinho dos olhos.
Este trabalho, porém, tem sido atrasado por vândalos, que estão sobrepondo a pintura de Thiago com riscos e manchas, como criança que rasura uma foto no jornal.
— Ainda não consegui finalizar porque picharam ele duas vezes, então tive que repintar pra reparar — lamenta o artista.
Nesta terça-feira (23), o repórter fotográfico de Zero Hora Jonathan Heckler esteve na praça e registrou a situação do Obelisco Leonístico. As imagens foram mostradas a Thiago Machado, que se surpreendeu com novos rabiscos feitos desde a última vez em que ele trabalhou na obra:
— Tem sido bem desgastante, agora vou ter que repintar mais uma vez.
As depredações ou furtos que tantas vezes impediram Carlos Drummond de Andrade de ler um livro para o colega Mario Quintana na Praça da Alfândega, não raro afastam o porto-alegrense de parte da história da Capital. Levantamento de 2023 mostrou que ao menos metade das 57 peças de arte espalhadas pelo Parque da Redenção, um dos símbolos da cidade, sofreu vandalismo. Muitas foram retiradas para conserto e, dada a recorrência dos crimes, nunca voltaram. Em 2022, reportagem de Zero Hora mostrou que um casarão histórico na Avenida Independência era usado como "cemitério de estátuas". Ao menos 15 obras eram guardadas no local, após terem sido danificadas nas ruas.