RETRATOS DA VIDA
"Desafiando as percepções do balé", descreve bailarina gaúcha que busca vaga na França
Aos 32 anos, Manoela foi selecionada para participar da audição do Ballet da Ópera de Paris, onde há apenas uma brasileira hoje


Treino, disciplina e arte. Esses valores andam lado a lado com a bailarina Manoela Fernandes dos Santos, de 32 anos. E em 2025, ela dança cada dia mais perto de seu maior sonho: fazer parte de uma das maiores companhias de balé do mundo, o Ballet da Ópera de Paris.
A dançarina de Porto Alegre irá participar da audição presencial da Grand Audition, em dezembro, e se conseguir o feito, será a segunda bailarina brasileira a conquistar o posto. Ela foi escolhida entre 16 pessoas, de diferentes países, e busca apoio para representar o Brasil na França.
O caminho até a audição vem de anos de dedicação. Manoela é dançarina desde seus dois anos. Formada em História, possui um currículo extenso de estudos da arte e da dança. Ela usa a palavra “amor” para resumir a sua conexão com o balé, afirmando que deve sua vida à dança.
Bagagem
Em sua trajetória, Manoela já acumula viagens e experiências ao redor do mundo. Em seu currículo estão mais de seis países, onde a bailarina teve a oportunidade de somar formações. Entre suas experiências estão o American Ballet, o Boston Ballet e o Summer Intensive – um curso intensivo de verão da própria Ópera de Paris.
Por mais que o balé fosse o pilar principal na vida de Manoela, nos estudos ela encontrou outro amor: a História. Graduada na área, ela uniu suas paixões ao se especializar em História da Arte, Dança e também na curadoria de artes.
Aos 32 anos, hoje também se tornou professora e equilibra os ensaios com as aulas de história, auxiliando outras bailarinas a entender os caminhos da dança até se tornar o que é hoje.
O ano de 2025 tem sido de conquistas para ela, que, além de garantir seu lugar na audição em Paris, também concluiu seu mestrado na UFRGS em História. Manoela enfatiza que sempre foi incentivada a seguir os estudos, se especializar, e decidiu fazer isso com uma estratégia. Ela comenta que sempre quis ter um segundo plano para quando a carreira na dança se encerrasse:
– É preciso ter conhecimento, outra formação. Pode ser algo até que se relacione com a dança, para que, ao mesmo tempo, te dê experiência e garantia profissional para a vida após a dança.
No tempo certo
A oportunidade em Paris é ainda mais significativa para Manoela por ocorrer aos 32 anos. Ela destaca que está “desafiando as percepções do balé”, pois essas oportunidades costumam ocorrer com pessoas mais jovens.
Porém, destaca que está ocorrendo no momento certo. Ela comenta que, aos seus 20 anos, ainda não estava pronta, mas agora, tendo passado por diversas experiências, com a sua formação concluída e com a vida independente estabelecida, ela está pronta para se “dedicar totalmente a isso”.
Manoela observa que, em geral, “muita coisa mudou” na sociedade, e barreiras de preconceito e discriminação relacionadas à idade estão sendo rompidas, permitindo que as pessoas dancem mais tarde.
Entre os sonhos guardados, a dançarina sempre almejou Paris. Falando sobre a oportunidade de poder ser uma gaúcha representando o balé brasileiro na companhia, ela descreve a sensação como “maravilhosa e gratificante”.
– Já pensou tu receberes por um trabalho em uma coisa que tu amas? É isso que está acontecendo comigo – destaca a dançarina.
Um sonho de mãe passado para a filha
Manoela não está sozinha na jornada até Paris. A mãe, Elizabeth Cristina Fernandes, irá acompanhá-la na semana de audição. E para a bailarina, a companhia da mãe não é algo novo. Elizabeth é dona da escola de dança onde Manoela cresceu e aprendeu a arte. A mãe, que é diretora artística e professora, destaca o orgulho que sente pela filha estar alcançando seus objetivos.
– O sonho da vida de toda bailarina do mundo é dançar na Ópera de Paris. Esse lugar é descrito quase como uma coisa inalcançável para as bailarinas, principalmente para nós, brasileiras – comenta Elizabeth.
Ela enfatiza que a conquista da filha representa a “concretização de um sonho de uma categoria inteira de bailarinas do RS”.
Quando fala sobre a distância continental, Elizabeth destaca que Manoela “foi para o mundo” muito nova.
A audição
/// A seleção ocorrerá de 26 a 31 de dezembro, mas o processo seletivo durou o ano inteiro. Manoela frequentou diversos cursos, com mestres de companhias renomadas. Nesse ano, um dos professores da Ópera de Paris notou o talento da bailarina gaúcha em uma aula e a recomendou para a audição.
/// Após a recomendação, Manoela entrou em um processo seletivo com demais bailarinas. Entre as etapas, foi necessário enviar materiais de suas apresentações, que passaram por aprovação. Agora, na última fase, Manoela se apresentará na audição presencial em Paris para diretores e professores da companhia, além de observadores de outras companhias convidadas.
/// O Ballet da Ópera de Paris é uma das companhias de balé mais antigas do mundo, fundado com a criação da Ópera de Paris, em 1669. A companhia é parte integral da Ópera Nacional de Paris e é conhecida por seu alto padrão de excelência, influenciando muitas outras companhias de balé internacionais.
/// Em 2023, a bailarina mineira Luciana Sagioro, aos 17 anos, passou a integrar o corpo de balé da Ópera e, desde então, é a primeira e única brasileira na companhia.
/// Manoela está se preparando para a viagem e busca patrocinadores para ajudar nas despesas até a capital francesa. Os custos estimados são de R$ 50 mil, incluindo passagem aérea, estadia e alimentação durante os cinco dias de testes. Interessados em ajudar podem entrar em contato pelo telefone: (51) 99172-7932. Doações também podem ser feitas na vaquinha online.
*Produção: Josyane Cardozo