Coluna da Maga
Magali Moraes: escrito por Deus
Colunista escreve às segundas e sextas-feiras no Diário Gaúcho


Quem sou eu pra reclamar de filmes com roteiros abençoados? Só que parecem uma pregação. Produções espíritas deixam tudo às claras, seu público cativo sabe o que vai encontrar. Mas quando a gente só quer ver um filme levinho, e percebe nas entrelinhas a mensagem subliminar divina? Me sinto pagando os pecados que nem sei se cometi. Ainda insisto, como numa penitência forçada, e sigo assistindo. Vai melhorar, tenha fé! E não melhora. Pelo menos, rende coluna.
Esses dias, vi o filme Rute e Boaz na Netflix. Queria uma hora e meia com começo, meio e fim. Nem sempre tenho paciência pra ver séries que vão me prender nos próximos episódios e temporadas. Caí na tentação de uma comédia romântica com pano de fundo de vinícola. Eis que, nos diálogos, Deus começou a aparecer bem mais que os vinhos. Daí foi aquele bingo de palavras e símbolos de conotação religiosa. Nada contra, sou católica inclusive. Só me avise antes da missa.
Adaptação
Depois descobri que o filme é a releitura de uma história bíblica do Antigo Testamento (o Livro de Rute), um melodrama de fato religioso. Releitura ou adaptação moderna, seja lá o que isso significa. Vale Tudo foi uma novela adaptada para as modernidades de hoje, e nem todo mundo gostou do resultado. Mas era sabido desde o início que iriam matar Odete Roitman. Eu queria romance e vinho, não o contexto espiritual. Pra evitar spoilers, não li nada antes e fui pega de surpresa.
Outro ponto pra se observar é a falta de cenas quentes nesse tipo de filme. Tem um beijo e olhe lá. Há um puritanismo no ar. E não é o único exemplo. A Netflix vem aumentando seu catálogo de filmes com cunho religioso. Lembrei de uma série que também é assim: Doces Magnólias. Todo mundo é gente do bem e frequenta a igreja local. No meio da história das três amigas e das noites de margarita estão os conselhos da pastora, as mensagens edificantes e a religião amarrando a narrativa.