Papo Reto
Manoel Soares: O autista cresce
Colunista escreve no Diário Gaúcho aos sábados

Quando falamos de autismo, a primeira imagem que vem é a de uma criança. Esquecemos que os autistas crescem e a sua condição não desaparece só porque ficaram adultos. Uma criança de cinco anos que tem a condição de autismo, daqui a 10 anos será um adolescente com todas as características de um adolescente, com impulsos sexuais, com desejo de fazer amigos, com medo da vida adulta e tudo que vem nesse pacote, mas a diferença é que provavelmente ele também terá as implicações do autismo.
Os pais de um adulto autista vivem um nível de angústia assustador. Não sabem como será a vida dessa pessoa depois que eles partirem, pois são os guardiões da sua dignidade. Hoje existem alguns espaços que acolhem autistas adultos, mas muitos deles acabam nas ruas, vivendo em situação de vulnerabilidade, e em pouco tempo entram para as estatísticas de mortos naturais dessa população.
Dignidade
Existem casos em que as famílias tentam acolher, mas as complexidades são gigantescas, o que faz a convivência ficar praticamente impossível. Esse é um cenário que exige nossa atenção, bem como residências terapêuticas e preparação para que essas pessoas desenvolvam habilidades para serem autônomas.
Como o aprendizado tem um tempo diferente do das pessoas que não têm autismo, eles precisam começar desde cedo. Se queremos que nossas crianças autistas sejam pessoas adultas com dignidade, devemos hoje disponibilizar tempo e tratamento adequados, pois só assim vamos criar chances de dignidade.