Dóceis e tímidos
Presença de gambás aumenta em Porto Alegre durante a primavera: "Compartilham a cidade com a gente"
O animal divide a cidade com a população e tem a sua própria maneira de viver e se alimentar — sem interferência da ação humana

Durante a primavera, os porto-alegrenses compartilham a Capital gaúcha com alguns animais silvestres que geralmente ficam "escondidos" nas outras estações. Um deles é o gambá, que se reproduz durante o período das flores e pode ser visto entre as orquídeas e os ipês da cidade, fazendo parte da vizinhança com uma maior frequência.
Esse é o principal motivo da maior aparição do mamífero de hábitos noturnos durante os meses de setembro a novembro, de acordo com Demetrio Luis Guadagnin, mestre em manejo de vida silvestre e doutor em Ciências Biológicas. Ele também explica que os gambás "não estão entre as espécies de maior risco para humanos e tendem a ser dóceis e tímidos".
No entanto, todos os animais silvestres podem apresentar algum risco quando capturados ou manipulados, já que — como explica Demetrio — eles não são vacinados e podem transmitir alguma zoonose.
— Se encurralados, podem se sentir ameaçados e reagir agressivamente. Mesmo pequenas bicadas, arranhadas ou mordidas podem ser uma via de entrada de agentes patogênicos — diz o especialista.
Ou seja, a principal orientação é: observe sem tocar. O animal compartilha a cidade com a população e tem a sua própria maneira de viver e se alimentar — sem interferência da ação humana.
Além dos gambás, outros animais como serpentes, jacarés e aranhas podem aparecer mais. As aves também, com a chegada de várias espécies migratórias durante o período.
O que fazer ao encontrar o animal
Não tocar, não machucar e não matar são as primeiras orientações ao se deparar com um animal como o gambá. No entanto, Soraya Ribeiro, doutora em diversidade e manejo de vida silvestre e chefe da equipe de fauna da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), explica que também não é recomendado alimentar o animal.
Esses animais silvestres se aproximam das cidades por encontrarem nessas regiões o seu alimento ideal em maior quantidade.
— O gambá, mais especificamente, é um mamífero muito adaptado ao meio urbano, porque, através das pragas urbanas que desenvolvemos por maus hábitos, criou-se muito baratas, ratos e agora até o escorpião. Esses animais (silvestres) se aproximam mais da cidade porque eles têm esse alimento que, para eles, é muito importante, que são essas pragas — detalha Soraya.
Orientações
- Não tocar, não machucar e não matar
- Não alimentar
- Se o animar aparecer no pátio de casa é recomendado prender os cachorros para que ele se desloque tranquilamente
- Se o animal estiver machucado, contate o telefone 156 — atendimento 24 horas; ou o WhatsApp (51) 3289-7517 — de segunda a sexta, das 8h30 às 12h e das 13h30 às 18h
Mães e filhotes gambás

João Carlos da Silva, 66 anos, encontrou cinco filhotes de gambás no pátio de casa, no bairro São Antônio, na quarta-feira (15).
— Achei aqui no pátio. Estava tirando o entulho, já tinha visto um, mas são cinco! O pessoal diz que é feio... mas eu achei tão bonitinho — diz.
Após dar leite na mamadeira aos animais, na hora de dormir, ele deixou os filhotes dentro de uma caixa na parte de fora da casa e, no outro dia, já não estavam mais por lá. João disse que, caso os filhotes ou a mãe apareçam novamente, ele pretende chamar as autoridades responsáveis para resgatar os animais.
Por mais que seja incerto o que aconteceu com os animais em questão, muitas vezes as mães gambás voltam para resgatar seus filhotes.
Demetrio Luis Guadagnin descreve as mães gambás como "atenciosas" e afirma que elas investem "no filhote enquanto julgarem que tem uma chance".
Nesse contexto, uma cena chamou atenção de quem passou pelo campus da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC) em 22 de setembro: uma mãe gambá buscou seu filhote, caído no meio do pátio, o colocou nas costas, e o levou para longe (veja no vídeo acima).
170 filhotes resgatados
A chefe da equipe de fauna da Smamus relata que a equipe resgatou 170 filhotes nesta semana. De acordo com Soraya, esses animais foram resgatados porque os pais morreram e acabam precisando de cuidados especiais.
— (É importante) manter sempre o animal bem, vivo, não agredir, pra que as fêmeas consigam cuidar dos seus filhotes. E se fazer o ciclo que é necessário pra sua sobrevivência — destaca.
Ela ressalta também que nessa época do ano a demanda para cuidado desses animais aumenta — principalmente pelo maior contato com o ser humano.
— Isso poderia não ter necessidade se as pessoas entendessem melhor a função do animal e que ele é um animal que compartilha a cidade com a gente — conclui.
*Produção: Estfany Soares