Viagem aos extremos
Brasileiro quer viajar até o Alasca a bordo de Uno 1996: "Carro de R$ 10 mil"
Alex Rodrigues Lima já rodou mais de 7 mil quilômetros pelo litoral brasileiro e, no final de outubro, chegou ao Uruguai


O Cabrito acabou de ganhar uma nova bandeira. Essa frase pode não fazer sentido para quem desconhece a história, mas, para Alex Rodrigues Lima, 50 anos, é uma conquista.
O Cabrito é o apelido inusitado de um Fiat Uno, ano 1996, motor 1.0. Com o veículo, Alex já rodou por oito Estados desde maio deste ano. E, na segunda-feira (28), cruzou a fronteira, saindo do Rio Grande do Sul e chegando ao Uruguai. Em novo solo, o viajante colou um adesivo da bandeira uruguaia, ao lado da brasileira, na lataria do carro.
Já são ao menos 7,6 mil quilômetros rodados. A meta é chegar ao Alasca, no extremo norte do continente americano.
— Estou na estrada num carro de R$ 10 mil vivendo o que, quando eu tinha milhões, eu não vivia. Essa é a diferença. É o que eu quero mostrar para as pessoas, que elas só querem mais e mais e não vivem — destaca.
Como começou essa história?

Alex é de Goiânia (GO), tem formação na área de tecnologia e atuava como construtor de casas de alto padrão. Ele conta que um divórcio, brigas judiciais por conta de patrimônio, dívidas e episódios de depressão fizeram com que decidisse "viver na estrada de modo simples".
Em agosto de 2022, ele pegou o carro que costumava ficar com os pedreiros nas obras e passou três meses rodando pelo nordeste brasileiro: saiu de Goiás e passou por Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Alex chama essa viagem de "primeira temporada". Foram cerca de nove mil quilômetros com a sensação de que a estrada "o salvou", como descreve.
A segunda temporada com o Uno iniciou em maio de 2025. Alex saiu de Goiás e já passou por Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nesta semana, chegou ao Uruguai. Ele vai rumo a Ushuaia, na Argentina, e depois passará a subir o continente até o Alasca (veja abaixo explicação de Alex sobre o trajeto).
— Eu simplesmente estou nesse estilo de vida. Não sou aposentado. Não tenho renda nenhuma. Não sou monetizado (nas redes sociais). Eu saí com exatamente R$ 3 mil há cinco meses e pouquinho da casa dos meus pais. Não tenho casa mais. Abri mão de casa, de apartamento, de tudo para ser feliz — ressalta.
Dentro do carro

É por meio das redes sociais (no Instagram e no TikTok) e de um grupo no WhatsApp que Alex compartilha a aventura. No TikTok, encontrou uma forma de fazer renda, por meio das lives. Mas também tem a ajuda de pessoas e empresas que se engajam na ideia e decidem apoiá-lo.
No dia a dia, a opção é pelo mais barato. O viajante explica que, nas refeições, prefere marmitas ou até mesmo miojo. No carro, há fogão, mini geladeira e itens de cozinhas.
Alex costuma tomar banho em postos de gasolina, mas também tem uma caixa d'água acoplada ao veículo. Às vezes, como ressalva, sem suor, pula o banho e apenas troca de roupa.
Em casos extremos de não haver banheiro no local onde está, uma garrafa e um pinico são as alternativas. O sono é tirado em uma cama adaptada, colocada no lugar do banco de passageiro. O carro também tem placa solar e internet via satélite.
A estrutura foi montada a partir da viagem feita ao Nordeste, com parte do dinheiro que tinha e com a ajuda de patrocinadores.
O Cabrito
Se com Alex a economia parece ser a máxima possível, as exigências do Uno já são outras. Alex conta que uma das maiores despesas é com combustível, já que o carro rende no máximo 14 quilômetros por litro.
O viajante diz não ter receio de que o veículo estrague. Afinal, se eventualmente o carro parar de andar, Alex estará dentro de casa, com comida, água e energia.
O maior susto que o Uno deu aconteceu justamente no Sul, próximo a Gramado, quando atolou em uma grama encharcada.
O nome Cabrito surgiu durante a viagem de 2022 ao Nordeste. A partir de uma enquete, os seguidores batizaram o parceiro de estrada.
— Cabrito, cabra, bode são todos animais muitos fortes, resistentes e brabos. A gente igualou isso com o carro Uno porque ele tem um meme de que é forte, resistente, é um tanque de guerra — lembra Alex.
A última parada no Brasil

O viajante saiu do Brasil pelo Chuí. Ou seja, sua última passagem foi pelo Rio Grande do Sul. Embora já conhecesse o Estado, Alex esclarece que, a bordo do Cabrito, tem a sensação de que pôde conhecer "a cultura de verdade".
Entre as cidades, ele destaca Pelotas, onde diz ter se sentido "abraçado".
— Em Pelotas, era só para eu passar, tipo assim: dorme uma noite e segue viagem. E eu fiquei 15 dias.
A vida na estrada encanta Alex pela liberdade de onde ir, onde dormir e onde parar. O sonho de chegar ao Alasca é inspirado por outros aventureiros de longos trajetos, mas não para por aí.
— Qual o sonho que eu tenho? De manter alegria, essa disposição que eu tenho, a saúde de estar vivendo. Eu tenho planos de, depois do Alasca, rodar todo o resto do Canadá, o outro lado dos Estados Unidos e parar o carro em Miami, que vai ser uma terceira temporada. De Miami, nós vamos jogar o carro para Portugal, rodar toda a Europa e levar esse carro lá na Fiat, na Itália. "Você vai parar quando, Alex?". Eu moro nesse carro eu só vou mudar ele de quintal — completa.